25 de Abril pautou-se por discursos e inaugurações
27 de Abril, 2021O programa das celebrações do 25 de Abril iniciou-se na sexta-feira passada com o concerto “Canto da Liberdade” que foi difundido por via online através da página do Centro de Arte de Ovar nas redes sociais. Tratou-se de um tributo a Zeca Afonso e a outros intérpretes de Abril, o que mereceu a visualização de vários espectadores.
No dia 25 de Abril, logo pela manhã, decorreriam os momentos tradicionais da guarda de honra prestada pelas corporações de bombeiros do concelho de Ovar e o respectivo hastear das bandeiras na Praça da República. Posteriormente, às dez horas, principiaria a sessão solene com os discursos dos principais representantes dos partidos políticos com assento na Assembleia Municipal, momento que teve lugar no Auditório do Centro de Arte de Ovar. Algumas pessoas assistiram presencialmente ao evento, enquanto que milhares assistiriam através da transmissão digital pelas redes sociais.
Pedro Braga da Cruz, Presidente da Assembleia Municipal de Ovar, considera que o 25 de Abril fez com que Portugal se tornasse um país respeitado no mundo das nações civilizadas, e que hoje Portugal tem inclusivamente um secretário-geral da ONU, António Guterres. Recorda que todos “somos filhos do tempo” e que nos apropriamos do passado para ver como chegamos até aqui, mas que o futuro será construído em novas bases que ainda desconhecemos quais serão. É necessário, no seu entender, reconhecer que a democracia abriu as portas do desenvolvimento, embora ainda o caminho a percorrer seja longo, sugerindo que é necessário suprir várias desigualdades ainda latentes na sociedade. Sublinha que o poder local democrático foi um dos principais triunfos de Abril. Por outro lado, reconhece que a pandemia veio condicionar a vida das sociedades, fazendo com que os cidadãos vivessem num autêntico labirinto, no entanto, acredita que os sacrifícios de confinamento exigidos fizeram com que as pessoas valorizassem mais a necessidade e a essência da liberdade. Por fim, relembrou a crise sanitária de Ovar, provocada pelos sucessivos surtos da COVID-19, e enalteceu o papel dos profissionais de saúde, das forças de segurança, das corporações de bombeiros, do Exército, das organizações solidárias, da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia naquele capítulo difícil.
Salvador Malheiro, Presidente da Câmara Municipal de Ovar, assume que o 25 de Abril permitiu que as pessoas pudessem sair para as ruas, usufruindo da liberdade. O silêncio seria quebrado pelo alvoroço, e a sombra deu lugar à claridade, e o desenvolvimento construiu-se. Salienta que a democracia foi matando a fome e a pobreza, permitindo realizar sonhos e esperanças e fazendo com que os homens se tornassem “pedreiros do presente e do amanhã”. No panorama concelhio, confessa que tem sido um privilégio servir o povo vareiro, fazendo até hoje um balanço positivo do percurso do seu executivo municipal. Salvador Malheiro recorda que se melhorou a qualidade de vida dos munícipes, sem descurar a boa saúde financeira da autarquia. Investiu-se muito na habitação social e na aquisição de património, promoveu-se a coesão territorial com investimentos estruturantes em todas as freguesias do concelho, requalificaram-se espaços urbanos e ambientais, instalaram-se redes de saneamento, requalificaram-se equipamentos culturais, escolares e da área da saúde, apostaram-se em vários eventos que atraíram fluxo turístico ao concelho, reforçaram-se ainda mais os apoios às associações, etc. Salvador Malheiro assume que ainda não foi tudo feito, mas que o executivo tem feito bastante até hoje, e frisa que o projecto autárquico “será sempre uma obra inacabada, com acelerações e abrandamentos”. No entanto, releva que houve um “crescimento a velocidade cruzeiro” sem depender de outras estruturas de decisão. No seu entender, o Município de Ovar continua a ser um dos mais competitivos de Portugal no que concerne à captação de investimento público e privado, procura turística e fixação de população jovem.
Henrique César Moreira, deputado da Assembleia Municipal eleito pelo PS, congratulou-se com os 47 anos do aniversário da democracia, e frisa que o seu partido sempre procurou trabalhar para o “hercúleo desiderato de implementação e salvaguarda dos sonhos de Abril”, e admite que este é um processo que tem de ser continuado e aprimorado no futuro. Defende, por conseguinte, que deve haver mais e melhor emprego, uma educação e literacia de qualidade, uma justiça eficaz, maior inclusão social, promoção de políticas eco-sustentáveis, mais condições para a habitação social, etc. No caso do concelho de Ovar, manifestou o seu cepticismo em relação às consequências sociais e económicas das Cercas Sanitárias implementadas (além de terem ocasionado a perda temporária da liberdade), mas enalteceu a coragem e a vontade de um povo que conseguiria dar a volta por cima, numa conjuntura bastante complicada. Por fim, lamentou o acrescido desinteresse dos portugueses face aos temas políticos, sobretudo dos mais jovens que se sentem excluídos pelas decisões das classes políticas.
Manuel Reis, líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Ovar, salienta que, nesta conjuntura pandémica marcada por vários confinamentos, tem sido testemunhada uma aparente e inevitável contradição com os valores de Abril visto que o vírus da COVID-19 obrigou a sociedade a abdicar da liberdade e a enfrentar uma clausura inesperada, embora de uma forma responsável, tendo em conta a necessidade de salvaguarda da defesa da saúde pública. No entanto, é necessário haver uma reflexão sobre os caminhos a percorrer no futuro próximo, e aqui receia o poder do “vírus da dúvida e da incerteza” muitas vezes alimentado pelas caixas de ressonância das redes sociais. Nos panoramas internacional, nacional e regional, defende um novo modelo económico e social, mais justo, cooperante e solidário, que não dependa de “individualismos” e que beneficie a coesão saudável, corrigindo as assimetrias identificadas. Por outro lado, e olhando para o estado da Nação, defende uma maior aposta na juventude para que possam ter carreiras profissionais dignas, e lamentou a solidão a que estão votados os idosos. Na sua perspectiva, para sermos melhores, temos de transmitir mensagens de alento e esperança, sem cair na tentação dos discursos catastróficos.
Fernando Almeida, deputado da Assembleia Municipal eleito pelo CDS-PP, recorda que o 25 de Abril ainda está longe de ser uma realidade idílica para os portugueses e deixou sérios recados nesse sentido. Recordou a elevada carga fiscal que os portugueses suportam actualmente, a legislação que beneficia quem prevarica (considera preocupantes os fenómenos da corrupção e da gestão danosa da causa pública, além do enriquecimento ilícito), o ensino sem futuro para os jovens, lamenta a ocorrência de comportamentos anti-democráticos e a existência da lei da rolha em vários casos. Assume que está de “luto” pela situação em que o país se encontra, rematando que é urgente mudar – apelando à dignificação da classe política e à necessidade de todos terem voz. Preconiza a introdução de uma reforma profunda porque alega que a nossa democracia está doente. Fernando Almeida refere que o país tem desperdiçado imensas oportunidades nos últimos 47 anos e que as pessoas começam a perder a esperança num Portugal melhor.
José Lopes, representante do Grupo Municipal do Bloco de Esquerda de Ovar, recorda que há 50% de trabalhadores que trabalham para apenas continuarem a ser pobres, sendo que a pandemia agravou a precariedade laboral, e que nada disto condiz com o espírito de Abril e das suas conquistas. Lamenta a inexistência de uma política pública de apoio aos idosos. No concelho vareiro, denuncia a ausência de transportes rodoviários públicos e o estado vulnerável dos serviços locais de saúde (unidades de saúde familiares encerradas e limitações no Hospital de Ovar). Todavia, José Lopes elogiou o actual executivo municipal por ter resolvido o drama dos moradores do Bairro do SAAL (Cortegaça), mas aponta que há ainda vários casos de degradação habitacional em zonas diversas do concelho e que se têm arrastado décadas após décadas. Por isso, pede mais agilidade e eficiência ao nível das necessidades habitacionais do povo vareiro.
Miguel Jéri, deputado do PCP na Assembleia Municipal de Ovar, relembrou a opressão do Estado Fascista e a sua longa duração política devido aos interesses do capital e à sua necessidade de evitar as reivindicações pertinentes da classe trabalhadora. Relembra a vitória de Abril e das causas populares, frisando que, da revolução, resultaram como mais-valias a criação do Serviço Nacional de Saúde e a promulgação da Nova Constituição. No entanto, entende a insatisfação de muitos portugueses no que diz respeito a vários sectores que estagnaram ou até mesmo recuaram. Na Saúde, relembra que há milhares de portugueses sem médicos de família, e várias cirurgias têm sido adiadas por períodos indeterminados. Na Sociedade, lamenta a limitação do número de creches e lares, e na Educação, é contra o excesso das propinas universitárias que prejudicam a progressão dos estudantes mais pobres. Na Política, denuncia promiscuidades e relações perigosas entre governantes e empresas. De um modo geral, Miguel Jéri acredita que há desigualdades e injustiças a corrigir para que Abril chegue verdadeiramente a todos os portugueses.
Após os discursos seguiram-se algumas iniciativas e até inaugurações. Às 11:30, decorreu uma iniciativa da Comissão Promotora das Comemorações do 25 de Abril no Jardim do Cáster, enquanto que às 12:15, houve uma visita às obras de requalificação que estão em curso na Escola Secundária Júlio Dinis (Ovar). Da parte da tarde, procedeu-se ao início formal da beneficiação do Centro Cívico de Arada, consignou-se a requalificação da Fonte do Estalinau (Arada), e em Cortegaça, inaugurou-se, na Rua do Buçaquinho, o Centro de Trail Running e BTT, e na rua Frederico Ulrich, entregaram-se as últimas seis moradias do Bairro do SAAL às respectivas famílias.
A propósito de tudo isto, destacamos as intervenções de Bruno Oliveira, Presidente da União de Freguesias de Ovar, e Sérgio Vicente Prata, Presidente da Junta de Freguesia de Cortegaça, que estiveram presentes nestas iniciativas.
Bruno Oliveira esteve nas intervenções de Arada, agradecendo o investimento da Câmara Municipal de Ovar relativamente ao melhoramento do Centro Cívico que beneficiará a comunidade e as associações locais. No entanto, apelou para que volte a ser implementada uma caixa multibanco em Arada, solicitando igualmente a ajuda ou intermediação do Presidente da Câmara Municipal de Ovar para a resolução desta carência.
Relativamente a Cortegaça, Sérgio Vicente Prata realçou que a voz do povo se fez ouvir através da reivindicação de habitações dignas (no caso do Bairro do SAAL), enquanto que frisou, por outro lado, a valorização da zona-lúdica desportiva de Cortegaça na zona do Buçaquinho, iniciativa agora premiada por um projecto vencedor do Orçamento Participativo que tinha visado a criação de um Centro de Trail Running e BTT.
Créditos da Imagem: Câmara Municipal de Ovar