A cidade de Ovar vista através do prisma da arquitectura

26 de Junho, 2021 0 Por A Voz de Esmoriz

Numa das edições mais recentes do Programa Expresso da Barrinha (Rádio Voz de Esmoriz), debateu-se o potencial arquitectónico da cidade de Ovar. Conhecedores desta área em concreto, Ismael Varanda e Martim Guimarães da Costa foram os convidados.

Ismael Varanda, arquitecto e antigo candidato pelo Bloco de Esquerda à autarquia, recorda que Ovar é uma terra com raízes antigas e, que desde cedo, a sua evolução foi delineada em dois eixos: um no sentido mar-nascente ou mar-serra, e outro da ria em direcção para o norte. Confessa que a maior parte do conjunto imobiliário existente não é assim tão remoto, podendo, nos casos mais antigos, remontar aos séculos XVIII e XIX. Salienta também a componente da arquitectura religiosa que ganha particular evidência no concelho de Ovar. Recordou, por outro lado, a introdução do azulejo nas fachadas das casas que ajudou a consolidar a ornamentalidade e beleza da cidade. Em termos críticos, alega que existem prédios (embora respeitando a sua existência devido à própria evolução das construções) que não ficam muito bem integrados “esteticamente” nalgumas zonas, como por exemplo acontece nas imediações do Jardim dos Campos. Defende que deveria haver um desenho urbano que soubesse fazer conjugar todas as vertentes. Frisa ainda que o centro velho da cidade e o património devem continuar a ser salvaguardados e que os munícipes devem saber usufruir das alamedas e sentir gosto em estar na sua urbe. Espera que a cidade de Ovar não perca a sua essência, sob pena de se tornar, no futuro, num mero dormitório. Relativamente a Esmoriz, assume que falta uma centralidade administrativa ou cultural e que esse poderá ser o grande desafio desta cidade, no futuro.

Martim Guimarães da Costa, arquitecto e líder da Juventude Socialista de Ovar, começou por falar da relação entre arquitectura e urbanismo, e citou um exemplo claro daquilo que “é fazer cidade”, aludindo à visão abrangente do arquitecto Januário Godinho que apresentou duas propostas e empreendeu um edifício monumental para o Tribunal de Ovar, tendo em especial consideração a colocação de escadarias e a mística dos edifícios solares, respeitando os tradicionais espaços cénicos da própria justiça. O arquitecto mencionado soube ainda fazer interagir o edifício com o espaço público. Também o mercado municipal de Ovar foi projectado por Januário Godinho. Por outro lado, Martim faz um apelo para que exista uma harmonia indispensável entre o património histórico (referente à identidade da cidade) e a modernidade porque acredita que o segredo de um bom desenho urbano assenta nesse equilíbrio. Relativamente a Esmoriz, elogiou o contributo do arquitecto João Gomes por ter sabido interpretar a colocação das namoradeiras ao longo da costa, inspirando-se no exemplo histórico dos palheiros e criando assim novos pontos de interesse turístico. Defende ainda uma densificação no interior da cidade de Esmoriz, sobretudo nas imediações do lugar dos Castanheiros, idealizando inclusive uma estratégia de requalificação e beneficiação urbana para o Palacete, o armazém e a sua envolvência.

Por outras palavras, Ovar e Esmoriz continuam a preservar as suas tradições arquitéctónicas (tendência a manter-se no futuro, espelhando assim a identidade colectiva), mas o caminho para um plano urbanístico de topo ainda é longo e decerto que, no futuro, poderão surgir novas ideias, acompanhando em simultâneo a evolução da sociedade.



Créditos da Imagem (meramente exemplificativa): https://www.vivadecora.com.br/pro/estudante/planta-de-situacao/