“A crise da terceira idade” (Opinião)

Antigamente, a crise da terceira idade era uma expressão comum para caracterizar um determinado comportamento, normalmente inadequado, de alguém com mais idade. Mas a realidade mudou, hoje há uma crise na terceira idade real que nos deve preocupar a todos.

Felizmente, a esperança média de vida tem aumentado, em contraponto, infelizmente a qualidade de vida tem vindo a diminuir. Desde algum desprezo da sociedade até às dificuldades financeiras, os nossos seniores vivem momentos difíceis.

Quando refiro o desprezo da sociedade, refiro-me essencialmente ao alheamento da sociedade perante as condições de vida dos mais velhos. Na agenda política e não só, prevalece a preocupação com a eutanásia ou até o consumo livre de canábis comparativamente às condições de vida dos nossos idosos.

Há uma clara subversão de valores e prioridades, nós, enquanto sociedade, devemos um imenso respeito aos mais velhos e isso deve reflectir-se na qualidade de vida que lhes proporcionamos na última etapa das suas vidas.

Essa qualidade de vida não passa apenas pela questão financeira, passa pelos bons momentos que lhes podem e devem ser proporcionados, pela atenção que lhes é devida, pelos cuidados de saúde de proximidade que necessitam e em muitos casos lhes foi coartado, pelas vagas em lares e centros de dia na sua área de residência e por coisas tão elementares como a eliminação de barreiras arquitetónicas nos espaços e edifícios públicos.

A maioria das reformas são baixas e há pessoas que nem sequer conseguem adquirir a medicação de que necessitam mensalmente, por falta de dinheiro. Triste, não é? Claro que é e deve-nos envergonhar a todos enquanto sociedade.

Enquanto há gente mais nova que escolhe como forma de vida a subsidiodependência que o Estado lhes proporciona com relativa facilidade, há gente que trabalhou uma vida e agora que chegou o momento do merecido descanso, sobrevive com imensas dificuldades.

Onde está a justiça social?

Não há justiça social alguma, bem pelo contrário e todos temos o dever de lutar por essa justiça.

Há idosos que vivem sozinhos e isolados, entregues à sua sorte, porque não têm um centro de dia nas suas proximidades onde possam passar o dia acompanhados e viverem momentos de convívio e partilha com outras pessoas.

Já lá vai o tempo em que os filhos acolhiam e tratavam dos Pais em permanência, claro que falo genericamente, hoje em dia, a maioria das famílias não tem disponibilidade de tempo, nem condições económicas para dar o devido acompanhamento aos mais velhos, esta é a realidade que não podemos escamotear, mas a que nos devemos adaptar.

Todos para lá vamos, se tivermos saúde. Uns com maiores dificuldades, outros com menores dificuldades, mas uma coisa é certa, se tudo se mantiver na mesma, nenhum de nós vai gostar da crise da terceira idade!

Fernando Camelo de Almeida
Deputado eleito na Assembleia Municipal de Ovar