AFPA assinalou V Dia do Cuidador Informal com painel de especialistas

5 de Novembro, 2021 1 Por A Voz de Esmoriz

A Associação Fraterna de Prevenção e Ajuda (AFPA) promoveu, nesta sexta-feira de manhã, o V Dia do Cuidador Informal e o respectivo seminário “Cuidar de Quem Cuida”, iniciativa que decorreu no auditório da Junta de Freguesia de Esmoriz. É de enaltecer a adesão significativa do público, além de um painel de especialistas que abordaram esta temática social cada vez mais relevante.

O cuidador informal é um elemento não-profissional que presta apoio no cuidado físico e gestão de doença complexa (nomeadamente doença oncológica, quadros demenciais ou degenerativos…) a outra pessoa dependente ou doente (familiar ou não).

No âmago desta definição, teceram-se as mais diversas considerações, analisando-se igualmente a realidade actual que rodeia a sua actuação. Dentro deste contexto, esboçaremos as reacções dos mais diversos convidados, começando pelo primeiro painel constituído por Carlos Pinto Ribeiro, Mariana Fragateiro, António Sá e Ana Cunha.

A vice-presidente Conceição Osório fez as honras da AFPA na abertura.

O Dr. Carlos Pinto Ribeiro, Presidente da Liga dos Amigos do Hospital de Ovar, referiu que o trabalho de cada voluntário é nobre, zelando pelos mais pobres, frágeis ou doentes, mas realçou que também é necessário cuidar de quem cuida, e apelou às associações para que não deixem de apoiar a causa da assistência.

Mariana Fragateiro, enfermeira directora do Hospital de Ovar, enalteceu as parcerias comunitárias que optimizam os processos de âmbito social, e nesse sentido, valorizou o trabalho da AFPA. Admite que é necessário consciencializar a sociedade para a questão do cuidador informal que é cada vez mais relevante, argumentando que cerca de 20% da população portuguesa tem mais de 65 anos, o que motiva uma resposta social crescente. Assume que, neste momento, e com o agravamento provocado pela pandemia da COVID-19, existem no país 1,4 milhões de cuidadores informais, um número já bastante elevado.

António Sá, Presidente da Junta de Freguesia de Esmoriz, elogiou o programa de excelência que caracterizou o evento e que assim permitiu esboçar as mais variadas reflexões. Dedicou ainda o seu reconhecimento ao trabalho da AFPA na cidade de Esmoriz e no concelho de Ovar, fazendo a diferença em casos sociais já previamente sinalizados.

Ana Cunha, Vereadora da Câmara Municipal de Ovar, também partilhou das mesmas palavras meritórias em relação à associação esmorizense, considerando a sua actuação especializada e inovadora no concelho vareiro. Frisa que, desde 2017, se tem vindo a assinalar sucessivamente o Dia do Cuidador Informal, reconhecendo que tem havido desenvolvimentos no panorama nacional nos últimos tempos, contudo alertou que ainda há um longo percurso pela frente para que a qualidade de vida do cuidador informal seja condignamente salvaguardada. Recordou que há um impacto mental e financeiro na vida do cuidador informal que não pode ser ignorado. Por outro lado, mencionou que a autarquia tem levado o tema bastante a sério, cooperando da melhor forma possível e tendo sido recentemente reconhecida com um selo de mérito por apoiar esta causa em concreto.

Seguiu-se entretanto o segundo painel de convidados que contou com as presenças de Maria Bernardette Leite (moderadora), Rita Gonçalves, Patrícia Campos, Sara Silva, Renata Pereira, Marta Reis e Rosa Bela.

Maria Bernardette Leite, enfermeira da equipa “Cuidar de Quem Cuida” e da Unidade Prestadora de Cuidados de Saúde de Ovar, assumiu a moderação e apresentação do evento, e começou por se dirigir à plateia, perguntando quantos cuidadores informais estavam entre o público. Cerca de 10 pessoas levantaram as mãos. Por outro lado, lançou mais duas interrogações pertinentes – Se os cuidadores informais não existissem, quem iria cuidar daqueles que mais necessitam? Não seria o Serviço Nacional de Saúde a ter que arcar com essa responsabilidade?

Rita Gonçalves, psicóloga e uma das coordenadoras da equipa “Cuidar de Quem Cuida”, aferiu sobre o impacto da pandemia que impulsionou o número de cuidadores informais visto que houve a necessidade de mais respostas sociais nos últimos tempos. Apresentou igualmente dados estatísticos sobre a caracterização sociodemográfica, resultantes de um inquérito realizado. A média de idades das pessoas que cuidam rondava os 57 anos, enquanto que a média de idades de pessoas cuidadas atingia os 80 anos. Registaram-se 22 casos (em 50 analisados) de dependência total, o que obrigaria a um permanente esforço do cuidador informal. Revelou ainda que parte considerável dos cuidadores informais acusam desgaste físico e mental, e que alguns deles prestam já cuidados há mais de cinco anos.

Patrícia Campos, gerontóloga da Câmara Municipal de Ovar, recordou que existem apoios e programas destinados aos cuidadores informais. Partilhou com o público a informação de que existem consultas de gerontologia gratuitas disponibilizadas pela autarquia. Citou ainda o “Projecto de Voluntariado de Combate à Solidão dos Idosos” (em que os voluntários se deslocam aos domicílios das pessoas dependentes, com 65 anos ou mais, de forma a ajudá-las nas necessidades mais básicas ou prementes, além de conversar com as mesmas) e o Programa “ConectivIDADE” (no qual os voluntários ajudam a capacitar os seniores, com mais de 50 anos, a utilizarem novas tecnologias, nomeadamente tablets e hotspots da internet).

Sara Silva, psicóloga do Gabinete de Apoio Psicossocial da Junta de Freguesia de Esmoriz, reconhece que houve um agravamento da doença mental com o surgimento da pandemia. Citou um estudo do Instituto Nacional Ricardo Jorge em que 72% dos indivíduos em isolamento apresentaram sintomas psicológicos, estatística que se agrava quando se aborda a situação dos infectados. Salienta ainda que a pandemia aumentou os índices de pobreza, fazendo diminuir os rendimentos médios da família e até aumentar a taxa de desemprego. Por outras palavras, um contexto completamente desfavorável para os cuidadores informais.

Renata Pereira, educadora social da AFPA, relembrou a experiência da equipa “Cuidar de Quem Cuida” na constituição de uma rede de parcerias, na capacitação da sua equipa, na referenciação ou levantamento dos cuidadores informais que vivem no concelho, e por fim, na intervenção psicoeducativa junto dos mesmos. Sublinha que os cuidadores informais têm de assimilar conhecimentos técnicos para que possam cumprir bem a sua missão, mas também têm de cuidar deles mesmos, isto é, “têm de estar bem para ajudar os outros”. Apresentou ainda o Projecto “Aqui(Dar)” que nasceu das necessidades dos cidadãos expressas através das linhas de apoio disponíveis e que consiste na ajuda frequente de psicólogos e fisioterapeutas que auxiliam o cuidador informal bem como a pessoa que é alvo de ajuda.

Marta Reis, psicóloga do Centro Comunitário de Esmoriz, começou por transmitir a ideia de que o trabalho do cuidador informal tem vindo a poupar muito dinheiro ao Estado. Apesar de reconhecer algumas medidas positivas resultantes da aprovação do estatuto do Cuidador Informal, em 2019, relembra que o referido estatuto só tem vindo a ser aplicado em 30 concelhos do país. Afirma que é necessário reivindicar ainda mais, fazendo estender a sua concretização a todo o território nacional. Reconhece que os apoios (na ordem da casa dos 200 ou 300 euros mensais) são já uma ajuda, mas devem ser aumentados sempre que se justifique, visto que há cuidadores informais que tiveram de abdicar dos seus trabalhos. Defende ainda a inclusão dos cuidadores informais em grupos sociais de apoio e suporte, permitindo-se assim a partilha de impressões e a sociabilização. Devem ser ainda promovidos alguns momentos de relaxamento e fontes de lazer, de forma a preservar o bem-estar do cuidador informal que já sofreu até então várias “mini-perdas”.

A conferência foi ainda abrilhantada pelo testemunho de Rosa Bela, cuidadora informal que reconheceu a ajuda da Fundação de Válega, e em particular, da AFPA. Admitiu que para tratarmos de quem temos em casa, é necessário primeiro estarmos bem. Confessou que fazer tudo isto sozinha é muito difícil, e que a AFPA lhe ajudou em muitas coisas, dando-lhe motivação e ajudando-lhe a ter alguma vida social através de novos grupos de amigos. Salientou que é necessário cuidar com amor.

Lília Teixeira, representante da Fundação de Válega, reconheceu que aprendeu muito com o evento e que as suas cuidadoras têm prestado afecto e carinho, frisando que a intervenção da sua IPSS vai muito além do mundo técnico.

Por fim, Graça Coelho, dirigente da AFPA, reiterou o papel da associação esmorizense na defesa dos direitos dos cuidadores informais no concelho de Ovar e na região envolvente. Enalteceu o trabalho e a resiliência das suas equipas técnicas, e valorizou as parcerias existentes que permitiram criar uma rede de colaboração, no município. Agradeceu, por isso, os contributos da Câmara Municipal de Ovar, Junta de Freguesia de Esmoriz, Centro Comunitário de Esmoriz, Unidade Apoio à Prestação de Cuidados e Liga dos Amigos – Hospital de Ovar, Fundação de Válega, PSP, etc.

O V Dia do Cuidador Informal chegava depois ao seu termo, tendo sido entregue uma rosa simbólica por parte da Liga de Amigos de Ovar a cada participante.