Alexei Navalny condenado a três anos e meio de prisão

5 de Fevereiro, 2021 0 Por A Voz de Esmoriz

Alexei Navalny, de 44 anos, tem sido talvez o principal rosto da oposição política ao presidente Vladimir Putin na Rússia, no decurso dos últimos anos.

Advogado de profissão, em que se evidenciaria em casos célebres de desvio de fundos do Estado por parte de funcionários e empregados, permitindo que bilhões de rublos regressassem posteriormente ao Tesouro Público, Navalny abraçaria a causa política, defendendo mais transparência, modernidade e justiça na Rússia, embora sempre com alguma simpatia pela vocação nacionalista.

Navalny fundou o partido “Rússia pelo Futuro” e, desde então, tem vindo a denunciar aquilo que considera ser uma corrupção transversal a todos os níveis por parte de detentores de cargos públicos e de grandes corporações controladas pelo Estado Russo. Já liderou protestos e manifestações contra o regime político vigente.

No entanto, Navalny já foi detido nalgumas situações, queixando-se de ser vítima de perseguição política. Segundo o Jornal de Notícias, Alexei e o seu irmão foram acusados de peculato num processo judicial muito questionável, sendo que o mesmo até mereceu a relutância do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. O seu irmão apanhou pena efectiva, enquanto Alexei, apesar de condenado, escapou à cadeia, mas alegou que estava a ser vítima de tentativas de intimidação. Viria a ser condenado uma segunda vez a cinco anos de pena suspensa.

Um novo caso despoletaria com Alexei Navalny a ser agora acusado de desvio de fundos em detrimento de uma filial da sociedade francesa Yves Rocher, contudo a companhia aparentemente negou ter sofrido qualquer perda, assim como quase todas as testemunhas inquiridas (excepção feita a uma que afirma ter reparado em alegadas irregularidades através do recurso a um investigador). O opositor político de Vladimir Putin voltaria a refutar as insinuações feitas a seu respeito, e os seus advogados queixaram-se mesmo da ausência de lisura no processo. No entanto, Navalny e o seu irmão voltariam a enfrentar nova condenação, agora não por peculato, mas por fraude. Ambos apanharam penas de prisão de três anos e meio (Alexei Navalny teve a sentença suspensa e necessidade de cumprimento de prisão domiciliária) e tiveram que pagar uma multa de 500.000 rublos e uma indemnização à Multiprofile Processing Company (MPK) em mais de 4 milhões de rublos. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem voltaria a dirigir críticas contra o julgamento, considerando algumas das decisões como “arbitrárias e irracionais”, prejudicando os réus.

Estes casos polémicos impediram Nalvany de se candidatar às eleições presidenciais na Rússia em 2018.

Entretanto, em Agosto de 2020, sentiu-se mal enquanto realizava um voo doméstico na Rússia. Dois dias depois, foi transportado em coma até Berlim (Alemanha) onde foi tratado. Laboratórios independentes europeus confirmaram que o opositor político havia sido exposto a um agente neurológico Novichok da era soviética, contudo as autoridades russas rejeitaram qualquer envolvimento.

Após uma recuperação na Alemanha que superou as expectativas, Alexei Navalny teve a coragem de regressar no passado mês à Rússia, contudo foi logo detido por ter violado os termos da sua liberdade condicional devido ao facto de não ter comparecido às autoridades competentes no ano passado (dado que esteve em tratamento durante cinco meses em Berlim). Agora acaba de ser condenado por um tribunal de Moscovo a três anos e meio de prisão, embora só tenha de cumprir dois anos e oito meses de cadeia, dado que já tinha passado algum tempo em prisão domiciliária.

Navalny acusa Putin de tentar meter medo a milhões de russos através da sua prisão e não hesita em apontar-lhe eventuais responsabilidades alusivas ao episódio da tentativa de assassinato de que foi alvo no ano passado. Vários países do Ocidente têm apelado ao regime russo para que liberte imediatamente Navalny, demonstrando renitência face ao julgamento em curso.

Nas últimas semanas, foram organizadas manifestações a favor de Navalny em 80 cidades russas. Mais de dez mil pessoas foram detidas, incluindo 82 jornalistas.

Por seu turno, o Kremlin elogia o trabalho da polícia, critica a histeria e a memória selectiva e parcial do Ocidente, acusando em simultâneo os manifestantes de serem “hooligans e agitadores” que colocam em causa a estabilidade social, económica e política no país.

Créditos da Imagem: Michał Siergiejevicz & https://euobserver.com/