Barrinha de Esmoriz, um ex-libris com vários pontos de interesse

7 de Novembro, 2020 0 Por A Voz de Esmoriz

A Barrinha de Esmoriz tem uma história muito rica. Foi pela primeira vez documentada enquanto Lagoa de Ovil (talvez devida à proximidade do castro ancestral hoje identificado no Lugar do Monte em Paramos) no século IX.
No século XIII, nas inquirições de D. Dinis, a Barrinha foi alvo de disputa entre dois nobres (Afonso Martins Madeira e João Nogueira reivindicavam direitos sobre a mesma) e o povo, tendo em conta que as suas águas tinham muito peixe e até havia um porto medieval que albergaria barcos de pequenas e médias dimensões. O rei acabou por confirmar o estatuto público da lagoa, contrariando as intenções hegemónicas daqueles aristocratas. Naqueles tempos, a lagoa era bem maior do que aquela que encontramos hoje, e de acordo com alguns registos antigos, poderá ter compreendido uma dimensão ampla desde Silvalde até Cortegaça.
Hoje a Barrinha já não tem o interesse económico de outros tempos, resume-se apenas à biodiversidade e a alguma afluência turística. Vale a pena visitar a lagoa, desde que saibamos respeitar a Natureza. Ali já foram documentadas mais de 170 espécies de aves. Por exemplo, podemos observar a presença de: gaivotas, patos, galeirões, garças-reais, águias-sapeiras, falcões, bispos-de-coroa-amarela, andorinhas, piscos, rouxinóis, etc.
Por sua vez, as águas lagunares já não albergam muita variedade devido à poluição existente. Certamente que ali resistem ainda enguias, alevinos e tainhas. Talvez outrora tenham existido na lagoa robalos, lampreias e linguados, todavia é improvável que tenham resistido aos efeitos nocivos da poluição industrial e doméstica que incidem, desde há décadas, sob a lagoa que, nos seus tempos dourados (visíveis desde há alguns séculos até às décadas 1950/1960), chegou a inspirar poetas e escritores tais como Florbela Espanca (alguns especialistas acreditam que a obra “Charneca em Flor” é, em parte, inspirada na passagem de Florbela por Esmoriz) ou Júlio Dinis (num trecho do “Canto da Sereia” chega a aludir à Barrinha e a uma das suas antigas pontes).
Actualmente, a Barrinha de Esmoriz oferece ainda bons miradouros consubstanciados através do posto de observação da avifauna (localizado mais a sul, já não muito longe do recinto desportivo do SC Esmoriz) ou do cimo da ponte da Barrinha, o que permite observar a lagoa e toda a zona envolvente que é repleta de cores.
No entanto, alertamos que há rectificações a serem feitas pelas entidades públicas. Em primeiro lugar, o “novo” cais da Barrinha (que, sendo criado em 2017, nunca albergou desde então qualquer barco e que foi construído junto à nova ponte de madeira de modo a colmatar a velha história da existência de um antigo cais, hoje inexistente mas que se localizava mais a nascente e que chegou a assegurar noutros tempos a ligação/transporte através de barco entre a zona da estação e a praia) está completamente abandonado e destruído e já não se adequa aos pergaminhos da actualidade, visto que a lagoa deixou de ter grandes caudais ou uma dimensão bastante ampla. Em segundo, os corrimões e as laterais dos passadiços, nalgumas partes já próximas da ponte, abanam agora muito facilmente, parecendo ter perdido a sua firmeza ou solidez. Por fim, será necessário organizar uma nova limpeza da zona porque há muito lixo depositado, o qual terá sido arrastado pela lagoa (e suas enchentes recentes) ou depositado por pessoas que, sem consciência cívica, continuam a desrespeitar os princípios básicos que norteiam o bem-estar de todos, finalidade que nunca será possível sem a Natureza – porque afinal precisamos dela para viver, mesmo que muitos não tenham noção disso!
Visite a Barrinha de Esmoriz, contemple tudo o que ela pode oferecer, mas acima de tudo, respeite-a.

Créditos da Imagem de Destaque: Rafael Barbosa Conceição