
“Carta ao Pai Natal” (Opinião)
24 de Dezembro, 2022Caro São Nicolau,
O povo de Esmoriz tem feito muitos sacrifícios nos últimos anos. Ele não teve culpa da pandemia que veio da Ásia, e chorou a perda de alguns dos seus entes queridos, enquanto outros viveram momentos difíceis. Ele não teve culpa da guerra da Ucrânia porque um ditador russo decidiu quebrar o direito e a harmonia internacionais. Ele não teve culpa da inflação galopante porque os governos nacionais e estrangeiros não souberam prever e lidar com os tempos que, entretanto, se seguiram. O povo de Esmoriz sempre colocou o comércio, a indústria e a economia locais a laborar. Os seus tanoeiros, pescadores, artesãos, comerciantes, empresários, cordoeiros, operários, dirigentes associativos e demais cidadãos sempre fizeram com que a cidade fosse para a frente, muitas vezes, a troco de vencimentos modestos, quando não o fizeram de graça ou à custa do seu próprio risco familiar.
Por isso, devido a estes sacrifícios, é justo pedir-te algumas prendas de Natal para 2023.
Quanto à primeira prenda, queríamos que o Esmoriztur fosse reabilitado e aberto ao público, acompanhado de uma programação de qualidade, envolvendo as associações e as escolas, sem esquecer iniciativas culturais de renome (com artistas conceituados). É um desiderato cultural pelo qual a cidade de Esmoriz muito anseia.
Relativamente à segunda prenda, desejaríamos ter um Museu da Tanoaria em Esmoriz. É um projecto que certamente enriqueceria as tradições históricas desta comunidade, e quem sabe, reivindicar o estatuto de capital nacional desta arte.
Como terceira prenda, peço-te que devolvas vida à biblioteca de Esmoriz e ao palacete dos Castanheiros, cuidando do seu edifício (pelo menos, estancar as infiltrações) e desenvolvendo actividades dinâmicas que possam atrair pessoas àquele polo cultural.
Quanto à quarta prenda, e apesar de já muitas ruas terem sido intervencionadas nos últimos anos, achamos que é altura de resolver os casos de alguns arruamentos que ainda se encontram num estado degradante. Não se esqueçam também da Rua dos Castanheiros!
Por fim, quanto à última prenda, peço-te que seja possível arranjar forma de preservar a Arte Xávega e os nossos palheiros nos próximos anos. Sei que não é fácil, mas a identidade é um tesouro do qual não podemos abdicar porque, caso contrário, perderemos o rumo para o futuro.
São Nicolau, sei que precisarás de muitas renas e carroças para transportar estas prendas todas, mas não te estamos a pedir para trazer tudo no dia de Natal, pode ser durante os 365 dias de 2023.
Pedro Henriques
Director do Jornal A Voz de Esmoriz