Dia Mundial da Poesia celebra-se hoje e Esmoriz reivindica um legado rico

A chegada da Primavera (e as temperaturas têm estado convidativas, com várias pessoas a caminharem à beira-mar em Esmoriz) e a celebração do Dia Mundial da Árvore e da Poesia assinalam este fim de semana.

Relativamente à poesia, Esmoriz teve alguns nomes (uns mais sonantes, outros em princípio de carreira com tremendo potencial) que se evidenciaram nesta área (embora com os mais diversos estatutos e graus de visibilidade): Florbela Espanca (embora não natural de Esmoriz), Isabel de Sá, António Maria, Boanerges Cunha, Alexandre Castro Soares, Agostinho Fardilha, Francisco Pinho, Saul de Oliveira, Sandra Rocha, Ana Roxo, Eva Estrela, Silvino Gomes, Manuel Silva, Suzana Cruz, Jaime Firmino, entre outros.

Também cantores da cidade que declamam versos como Lean Cruz, Ruben Pinto, José Reis, Emanuel Pinto e outros mais não podem ser ignorados neste texto. Na verdade, a música também é poesia.

Na prosa, podemos destacar os apresentadores Hélder Reis e Gabriela Relvas, e ainda Lúcia Bandeira, Sara Alex Relvas, Pedro Saraiva, Joaquim Longo e outros mais. Também Micaela Pinto e Tânia Pinto publicaram recentemente os seus romances, sendo jovens que estão a fazer despontar o seu talento.

Como não poderíamos deixar de reforçar tal marco, apresentamos em seguida um soneto da autoria de Florbela Espanca, precisamente sobre a Primavera e o Amor. Ela fora o génio maior da nossa literatura a pisar o solo da nossa localidade.

Florbela Espanca nasceu em 1894 em Vila Viçosa (Alentejo), tendo falecido em 1930, na cidade de Matosinhos. Teve uma passagem fugaz ou breve por Esmoriz, talvez com períodos intercalados entre 1924 e 1926 (isto de acordo com a correspondência que emanou a partir desta terra). Aqui viveu nos lugares da Casela e da Estrada Nova, e muitos julgam que a visão do mar e da Barrinha terá inspirado a poetisa a redigir versos determinantes na obra “Charneca em Flor”. Aliás, a tradição recheada de escritores em Esmoriz está certamente conotada com os imensos ex-libris que a cidade detém, autênticas fontes mágicas de inspiração para quem quer fazer arte apenas com um papel e uma caneta na mão.

A Tua Voz de Primavera
(Poema da autoria de Florbela Espanca; 1894-1930)

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios húmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo desejo… olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!

Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos…

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!