Do minúsculo ao gigante: todos têm um papel no Ecossistema (Opinião)
19 de Agosto, 2021Nos últimos quinhentos milhões de anos, a vida na Terra foi quase dizimada por cinco vezes – alterações climáticas, uma idade do gelo intensa, vulcões, e a rocha espacial que colidiu com o Golfo do México há 65 milhões de anos, obliterando os dinossauros e um conjunto de outras espécies. Todos os sinais indicam que estamos agora perto da sexta, sendo considerada como “o maior episódio de desaparecimento de espécies desde a extinção dos dinossauros”, com a diferença que desta vez, por culpa da ação humana.
A Europa perdeu 80% de insetos em 30 anos! O que contribuiu para o desaparecimento de 400 milhões de pássaros, assim como também de anfíbios, lagartos, peixes, pequenos mamíferos, etc. Mais de 40% das espécies de insetos estão em declínio e 1/3 já estão classificadas como Ameaçadas. Quando se afirma que 80% da biomassa de insetos desaparece em 25-30 anos, podemos declarar que se trata de uma catástrofe na Natureza numa escala mundial para os nossos ecossistemas e para a nossa sobrevivência.
As maiores causas da eliminação de animais tão essenciais para a vida como os pequenos invertebrados, centram-se na destruição do seu habitat (fonte de alimentação, abrigo e proteção), a utilização crescente de pesticidas e fertilizantes artificiais, as alterações climáticas (variações de temperatura que não são suportadas por algumas espécies de insetos), a poluição as águas rurais e urbanas, entre outras. Ao enveredar pela Agricultura Intensiva, há a eliminação das árvores e arbustos que rodeiam os campos e as hortas; os solos ficam planos e são tratados com pesticidas, tornando-os estéreis. Assim, assiste-se à existência de solos pobres em nutrientes e sem arejamento (as plantas não vingam); deixa de existir a circulação de nutrientes ao longo dos solos (permitindo que as plantas morram desnutridas); há a extinção de polinização de plantas (não há nascimento de novas plantas); e, naturalmente, ocorre o desaparecimento do controlo natural de parasitas (os parasitas sobreviventes apoderam-se da flora, provocando doenças ou mesmo a morte das plantas).
Passando dos pequeninos para os grandes, os elefantes africanos ainda são caçados em grande número. Dezenas de milhares de elefantes são mortos anualmente para obtenção de marfim. Este material é frequentemente esculpido em ornamentos e joias, sendo a China o maior mercado consumidor desses produtos. A proibição do comércio internacional foi introduzida em 1989 pela CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagem), após anos de caça furtiva sem precedentes. Na década de 1980, cerca de 100.000 elefantes eram mortos por ano e até 80% das manadas foram perdidas em algumas regiões. Esta proibição permitiu que algumas populações se recuperassem, especialmente onde os elefantes foram protegidos de forma adequada, mas, infelizmente, nos últimos anos a procura aumentou novamente.
Os elefantes florestais africanos são importantes dispersores de sementes por meio do consumo de frutas. As tâmaras florestais são consideradas dependentes do elefante, pois a semente germina com mais sucesso depois de passar por um elefante. Os elefantes também são responsáveis pela criação e manutenção de grandes clareiras no meio das florestas tropicais, em áreas onde destroem a vegetação enquanto comem e viajam. Essas aberturas florestais afetam fortemente a regeneração das árvores florestais e aumentam a diversidade das mesmas, afetando muitos outros organismos naquela área. Os caminhos e buracos no solo feitos pelos elefantes durante as suas viagens, são usados por outros animais menores como abrigo ou tornam-se numa fonte de água.
A vida do nosso Planeta em alguns números (fontes: WWF e IUCN):
2.5%: taxa de declínio de insetos anual. Num século, deixam de existir insetos.
60%: As populações de mamíferos, aves, peixes, répteis e anfíbios diminuíram, em média, 60% entre 1970 e 2014.
50%: Estima-se que a Terra tenha perdido cerca de metade de seus corais de águas rasas nos últimos 30 anos.
20%: Um quinto da Amazónia desapareceu em apenas 50 anos.
37400: De 134425 espécies monitorizas, mais de 37400 estão ameaçadas de extinção.
Se quebramos uma parte do ciclo da vida, as outras partes irão sofrer obrigatoriamente. A nossa sobrevivência depende da natureza, dos ecossistemas, da água, do oxigénio, etc. Mas há ainda um caminho!
É necessário: restaurar habitats; repensar nas práticas agrícolas; diminuir a utilização de pesticidas artificiais; utilizar práticas mais sustentáveis; reservar espaços naturais selvagens para as espécies endémicas ou autóctones; recuperar zonas urbanísticas em vez de destruir mais espaços verdes para novos empreendimentos; entre outros.
Artigo enviado pelo Zoo Santo Inácio
(Também partilhado pela Associação Portuguesa de Imprensa)