
“É uma espécie de voo aquilo que sinto quando canto” – Lena D’Água
3 de Fevereiro, 2025Um dos ícones da música portuguesa das décadas de 1980 e 1990, e contando com uma carreira notável na arte das melodias, Lena D’Água concedeu uma entrevista especial na rádio Voz de Esmoriz no passado domingo, no programa “Em Família”, conduzido pelo locutor Paulo Santos.
Lena foi, por exemplo, autora dos conceituados temas “Demagogia”, “Nuclear Não, Obrigado”, “Olha o Robot” e “Dou-te um doce”, os quais cativaram infindáveis audiências de Norte a Sul do país.
Lena D’Água refere que nas suas músicas procurou transmitir uma mensagem social, recordando que isso já partiu do seu âmago, e também do seu parceiro daqueles anos, Luís Pedro Fonseca, que era já um activista. Acrescenta que ambos viveram o 25 de Abril e que, pouco tempo depois da revolução, já havia enormes divergências políticas e que, naturalmente, assim surgiram os temas “Demagogia” e “Nuclear, Não Obrigado” em 1982, no álbum “Perto de Ti”. Na verdade, a cantora sempre procurou estar atenta ao contexto nacional e internacional que a rodeava.
Menciona que, nesta fase primordial, escreveu poucas letras, entre as quais, “Da Noite” e “Para ti” que são dois poemas muito belos que foram musicados pelo Luís Pedro Fonseca. Um desses temas foi lançado no álbum “Sem Açúcar” (1980) pela sua banda inicial “Salada de Frutas” e o outro no álbum “Perto de Ti” (1982), sendo que, neste último álbum, Lena D’Água já aparece como artista principal. Em 1984, Lena D’Água edita novo álbum – “Lusitânia”.
Na entrevista à rádio Voz de Esmoriz, recordou ainda que, em 1993, abraçou o projecto “As Canções do Século”, iniciativa que juntou igualmente as cantoras Helena Vieira e Rita Guerra, destacando que tudo partiu da ideia do maestro e compositor Pedro Osório. Sobre esse momento, relembra que foi um grande êxito e que visava reunir as melhores músicas desde o ano de 1900 (com o tema Fascination, datado do dealbar do século XX, a ser cantado por Lena D’Água) até à data da apresentação do projecto, leia-se, década de 1990. Cada uma das artistas brilhou na sua área (Helena Vieira vinha da lírica, Rita Guerra tinha talento para o piano e tinha cantado ao mais alto nível no Estoril, e Lena D’Água era oriunda do pop e do rock). Recordou que gravaram tudo aquilo, com a orquestra, em duas noites no Casino, e depois fizeram espectáculos, sem parar, até 1999. Lena D’Água refere mesmo à rádio Voz de Esmoriz que “foram quase sete anos de espectáculos ao vivo, só com aquele disco”. Apesar de os espectadores terem adorado e ovacionado estas canções ao vivo, lamenta que, em termos de vendas na vertente discográfica, as canções do século cantadas pelas mulheres (em várias línguas) tenham vendido apenas um décimo comparativamente com as melodias do centénio interpretadas pelos homens que tiveram muito mais saída no exterior.
Um dos seus temas mais populares foi o célebre “Olha o Robot” (produzido em 1981) e também gravou várias músicas para as crianças, inspirando-se na obra literária de Cecília Meireles, daí o nascimento do disco denominado “Ou Isto Ou Aquilo” em 1982, o qual é naturalmente inspirado na eminente poetisa brasileira.
Lena D’Água ficou igualmente agradada com os elogios do compositor Pedro da Silva Martins com quem trabalha e que recentemente tinha elogiado, numa entrevista à rádio Voz de Esmoriz, a sua voz de cantora que permanece magistral. Neste contexto, Lena D’Água detalhou alguns cuidados que tem tido com a sua voz, e confessou ainda que é uma espécie de voo aquilo que sente quando canta.
A cantora admite que tem recebido muito carinho e reacções incríveis do seu imenso público, o qual compreende várias gerações, desde os mais idosos, passando pela idades dos filhos até chegar aos netos, que continuam a ouvir, incondicionalmente, as suas músicas. Menciona que há pessoas que se emocionam e choram durante os seus concertos.
Apesar de ter estado alguns anos sem gravar originais, agradece o facto de se ter cruzado com o compositor Pedro da Silva Martins, o qual lhe permitiu retomar a sua produção musical. Admite que hoje é mais feliz e respeitada do que era antigamente. Salienta que, no presente, “a sua voz ganhou uma segurança, uma personalidade, uma profundidade”, relembrando que chegou a sofrer muito ao longo da vida com várias mágoas ou amores desencontrados, sobretudo quando era nova, e que por isso, não tem saudades do passado.
Na sua entrevista à rádio Voz de Esmoriz, Lena D’Água, falou também de algumas histórias familiares que marcaram as suas vivências até aos dias de hoje, evidenciando-se o seu carinho pelo seu neto Vicente que necessita de atenção especial.
Actualmente com 68 anos, diz sentir-se bem de saúde e confidenciou à rádio Voz de Esmoriz que pretende gravar, pelo menos, mais um disco com o conceituado compositor Pedro da Silva Martins. Realçou igualmente que, no próximo ano, em 2026, fará 50 anos de carreira, prometendo várias iniciativas para assinalar a efeméride. Quer ainda publicar um terceiro livro sobre a sua vida.
Ao nível dos concertos, informou os ouvintes que actuará em Fevereiro nas cidades de Tomar e Santarém. No entanto, mais lá para a frente, no dia 19 de Outubro promete fazer lotar a “Sala Suggia” na Casa da Música do Porto, isto é, num espaço que será certamente mais próximo da nossa região.
Muitos dos seus trabalhos estão hoje publicados no Youtube, sendo que Lena D’Água destaca a adesão de muitos seguidores portugueses e também brasileiros que gostam de escutar os seus temas musicais nessas plataformas.
Partilhamos, por fim, dois dos temas mais populares da mítica cantora:
Créditos da Foto: Câmara Municipal da Amadora & Prémio José Afonso