Festival Tan Tan Tann voltou a trazer o melhor do teatro e música alternativa

8 de Junho, 2025 Não Por A Voz de Esmoriz

Nas noites destas passadas sexta-feira e sábado, dias 6 e 7 de Junho, tivemos a 9ª edição do Festival Tan Tan Tann, uma produção cultural do Imaginar de Gigante que mescla as artes performativas, nomeadamente a música e o teatro alternativo (português, espanhol, francês ou até de outros países), e o ambiente típico que a Tanoaria JOSAFER, palco do evento, oferece, aludindo assim ao ofício histórico do tanoeiro que fabrica e molda os barris para albergar vinho, líquidos e azeite.

O Festival Tan Tan Tann, na qualidade de um festival internacional de artes performativas, voltou a contar com uma boa adesão por parte dos espectadores, o que se traduziu em assistências consideráveis durante aquelas duas noites.

O cartaz deste ano de 2025 teve as participações de Dírtz Theatre, Carlos Raposo, Cie Juscomama, Arianna Casellas y Kauê e Paula Moita, não esquecendo os saborosos bifes do vazio disponibilizados pela Tanoaria JOSAFER, a recordar certamente as tradições do convívio genuíno que inspiraram a “Macaca Rambóia” em Gondesende.

Na noite do dia 6 de Junho (sexta-feira), o Dírtz Theatre (projecto oriundo de França) apresentou a peça “Alias”, em que procurou de uma forma bastante criativa evidenciar o que está por detrás de cada homem, isto é, o que poderá estar ocultado em cada ego que se esconde no interior do ser humano. Por outras palavras, questiona-se: o que se esconde por detrás de cada homem? Será que existe um “outro” no nosso “eu interior”? Uma reflexão pertinente. Nessa mesma noite, Carlos Raposo, músico português que se inspirou em parte no legado de Carlos Paredes, encantou igualmente a Tanoaria através da arte da viola, conjugando assim os tons melancólicos e melodias da Viola Campaniça e os sons eletrónicos, que nos guiam numa experiência por vezes psicadélica sem nunca sairmos da Portugalidade e da tradição. Destacamos ainda a exposição que foi consubstanciada por Paula Moita que nos remete para “A Morte das Certezas”, sendo que a morte faz parte do equilíbrio da natureza, e que esta tipologia em concreto – “a morte das certezas” integra mesmo um quotidiano que vivemos diariamente, onde ao longo da nossa existência nos damos pela “morte da inocência, de uma imagem, de uma esperança, de um amor, de uma expectativa, de uma realidade, de uma ideia ou de uma certeza”.

Na noite do dia 7 de Junho (sábado), Cie Juscomama (França) apresentou a peça de teatro “Les Petites Geómetries” que incidiu muito na arte dos objectos e no jogo de máscaras, em que as cabeças dos dois protagonistas em palco foram envolvidas por cubos pretos que exibiam desenhos, construindo-se assim uma narrativa original. Por seu turno, na vertente musical, Arianna Casellas y Kauê, oriundas da Venezuela, souberam conciliar a música tradicional e contemporânea, proporcionando canções de família, tempo e emoção. Recorreram ainda ao uso dos ritmos do tambor e do cuatro, este último, um instrumento típico da Venezuela.

O balanço desta nona edição é assim extremamente positivo. Recordamos que o Imaginar do Gigante veiculara sempre na sua antevisão deste evento que “as artes performativas podem transformar a realidade e criar novos mundos (…) é neste sentido que a nossa estrutura se movimenta, articulando linguagens e narrativas contemporâneas num festival interdisciplinar, provocando vários sentimentos que possam despertar emoções profundas para o diálogo”.

O Imaginar do Gigante, projecto artístico da mentoria de Pedro Saraiva e Elsa Martinho, está assim de parabéns por mais um êxito do seu festival Tan Tan Tann, isto após terem realizado muito recentemente a 10ª edição dos Gigantes Invisíveis no Parque Ambiental do Buçaquinho (no âmbito das celebrações do 51º aniversário do 25 de Abril) e terem já conquistado, no ano passado, o prémio de melhor performance para crianças da 13ª edição do BITOLINO, o Festival Internacional de Teatro para Crianças da cidade de Bitola, na Macedónia do Norte, na altura, com a peça “O Grande Lago”, em representação de Portugal.

Em declarações de antevisão da 9ª edição do Festival Tan Tan Tann, em directo da Tanoaria JOSAFER, para o programa “Ensaio” da RTP3 com a reportagem a ser conduzida pela jornalista Joana França Martins, Pedro Saraiva, director artístico do Imaginar do Gigante, referiu que a designação do Festival Tan Tan Tann está relacionada com o som do bater dos malhos nas pipas/nos barris. Recordou que não é fácil aproximar uma arte contemporânea (música e teatro) de uma arte ancestral (tanoaria), no entanto, argumentou que a fusão é bem vinda, acreditando que seriam, nesta edição, proporcionados eventos culturais que se enquadravam bem neste ambiente em específico, nomeadamente a viola campaniça juntamente com a electrónica, exemplificando com o concerto de Carlos Raposo. Pedro Saraiva salientou que o objectivo passou igualmente por cativar a presença de um número mais expressivo de jovens no público. Voltou a elogiar o espaço da tanoaria que proporciona experiências únicas, cujo palco encanta os espectadores e até os próprios artistas, salientando que a Tanoaria JOSAFER é um “museu dinâmico” que está em funcionamento e mantém viva uma arte muito antiga na região.




Créditos da Foto: Ovar Cultura/ CMO