“Fomos a primeira associação de futebol do país a criar uma linha direta de apoio aos clubes para questões relacionadas com a pandemia” – Arménio Pinho

31 de Março, 2021 0 Por A Voz de Esmoriz

Arménio Pinho é actualmente o presidente da Associação de Futebol de Aveiro. Foi eleito pela primeira vez em 2015, e depois de nova vitória em 2019, está agora a cumprir o seu segundo mandato que se estende até 2023. Arménio Pinho tem sido visto como um dos principais dinamizadores das competições futebolísticas do distrito de Aveiro.

1- Bom dia, Arménio Pinho e obrigado por ter aceitado o nosso convite. A criação da plataforma AFA TV que transmite os jogos dos campeonatos distritais, a realização de uma gala anual e a publicação frequente de um magazine constituíram uma grande inovação a fim de proporcionar outra visibilidade e notoriedade às provas?

R: Desde a candidatura feita para o primeiro mandato na liderança da Associação de Futebol de Aveiro que a nossa estrutura defende que a AFA são os Clubes. E, por clubes, englobamos tudo e todos aqueles que os representam, sejam jogadores, estruturas técnicas e diretivas, ou adeptos. Por isso, sempre procurámos, desde o primeiro momento, alavancar a AFA e os seus associados da melhor forma possível, criando dinâmicas e estruturas que possibilitem um crescimento a todos os níveis. As plataformas de comunicação, como a AFA TV ou a AFA Magazine, e os eventos realizados, como a Gala, surgem neste contexto, uma vez que permitem destacar todos os intervenientes desportivos do futebol, do futsal e do futebol de praia do distrito de Aveiro, garantindo-lhes uma visibilidade sem paralelo e, simultaneamente, ajudando a desenvolver os Clubes e as competições. Hoje, as nossas provas são um exemplo em todo o país e beneficiam de uma atratividade extra, tendo aumentado a base de captação de atletas e, consequentemente, a competitividade.

2- Acredita que essa estratégia poderá, no futuro, atrair novos patrocinadores?

R: Esse foi, desde logo, um dos pontos-chave para o investimento realizado. Em termos institucionais, a AFA dispõe, atualmente, de um vasto conjunto de parceiros de relevo, sendo que a SABSEG e o Grande Hotel de Luso serão, porventura, os mais visíveis, uma vez que dão nome aos dois principais campeonatos de futebol e de futsal do nosso distrito, respetivamente. Esta dinâmica tornou-se possível pela aposta que fizemos na promoção dos nossos Clubes e das nossas provas enquanto marcas, ao mesmo tempo que lhes garantimos maior presença e potencial junto dos próprios patrocinadores.

3- Em que sentido os clubes são beneficiados com essa maior visibilidade que lhes é agora proporcionada?

R: Para um parceiro, seja ele da Associação de Futebol de Aveiro ou dos Clubes associados, o investimento é hoje mais apelativo pelo reconhecimento que se possibilita. Através da AFA TV, seja por via das transmissões dos jogos, da possibilidade de os rever na íntegra ou, até, dos conteúdos semanais, como é o caso dos golos de cada jornada, o produto – que, neste caso, é o futebol e o futsal, essencialmente – chega a um vasto número de pessoas, não só em Portugal, mas também no estrangeiro. Nesse sentido, a quantas mais pessoas chega, maior é a visibilidade dos nossos Clubes e daqueles que tão bem os representam, o que constitui um largo conjunto de oportunidades, seja através dos patrocínios para a instituição, seja pela valorização dos seus ativos, que, neste caso, são os jogadores.
Recordo, por exemplo, as transferências do Ibrahim Koneh do Lusitânia de Lourosa FC para o Boavista FC, em futebol, ou do Serginho, do FC Arouca para o Futsal Azeméis, em futsal. Um salto estrondoso, desde os campeonatos distritais até às principais divisões das modalidades, para o qual muito ajudou a visibilidade das nossas provas.

4- A pandemia da COVID-19 forçou a interrupção abrupta da época anterior, e está a condicionar a actual temporada com os jogos do Campeonato SABSEG praticamente parados desde Novembro. Quando é que prevê a retoma das competições distritais?

R: Antes de mais, convém realçar que um contexto extraordinário exige medidas extraordinárias. Para a Associação de Futebol de Aveiro, a saúde é, naturalmente, o mais importante, tanto que, em março passado, aquando da chegada da Covid-19 a Portugal, fomos uma das primeiras associações do país a decretar a suspensão das provas. À altura, lidávamos com um vírus totalmente desconhecido e que causava dúvidas na própria comunidade médica e científica, pelo que não podíamos arriscar a saúde de todos aqueles que nos representam.
Desde então, como é do conhecimento público, o desporto foi muito afetado pelas decisões tomadas, essencialmente pela falta de apoios para as Associações e para os Clubes do nosso país, que desempenham uma função fundamental junto da sociedade. As sucessivas interrupções competitivas acarretam fortes prejuízos a todos os envolvidos e a Associação de Futebol de Aveiro foi, desde início, um parceiro ativo na defesa do desporto em Portugal, expondo o impacto, as necessidades e os desafios. Este é um trabalho contínuo, que continuamos a desenvolver junto das entidades competentes, no sentido de procurar soluções que permitam uma normalização do desporto em Portugal.
Temos seguido, e continuaremos a seguir, as indicações que nos chegam das entidades superiores e, nas últimas semanas, procurámos ouvir também os nossos Clubes, no sentido de aprofundar as suas realidades e os sentimentos em relação ao contexto atual e a uma possível retoma das provas.
Tendo isso por base, decidimos criar uma Prova Final, com caráter facultativo, para apuramento dos Clubes a subir ao Campeonato de Portugal e a disputar a Taça de Portugal, bem como para o preenchimento das respetivas vagas no Campeonato SABSEG e na 1.ª Divisão Distrital. Ouvimos os clubes, percebemos a situação em que se encontram e, por isso, optámos por dar-lhes o poder de decisão sobre a disputa desta Prova Final, sabendo-se de antemão que não existem despromoções nem serão aplicadas quaisquer sanções desportivas a quem decida não participar.
Esta foi a solução encontrada para a retoma competitiva e para que possamos apurar os vencedores em campo, sempre com atenção ao contexto que vivemos.
Apesar de estarmos ainda dependentes de decisões do Governo e das autoridades de saúde, o arranque destas provas finais está previsto para o dia 2 de maio. Realizámos já os sorteios das provas finais do Campeonato SABSEG, da 1.ª Divisão Distrital e da 2.ª Divisão Distrital, que se vão realizar, numa primeira fase, em formato idêntico ao da Liga dos Campeões, com uma fase de grupos jogada a duas voltas. Posteriormente, os dois primeiros classificados de cada grupo avançam para as eliminatórias, jogando-se os quartos-de-final, as meias-finais e a final, a uma mão apenas.
A fase de grupos termina no dia 6 de junho e os jogos de apuramento dos campeões estão previstos para o dia 27 do mesmo mês.

5- Muitos dos clubes queixam-se que a pandemia lhes provocou uma quebra terrível nas receitas. Foram tomadas algumas medidas de apoio para aliviar a situação actual que enfrentam?

R: O impacto da pandemia de Covid-19 na vida dos nossos Clubes e da própria associação é brutal. Ainda assim, apesar da escassez de fundos governamentais, a Associação de Futebol de Aveiro tem procurado, dentro do que é possível, auxiliar os seus associados. Numa primeira fase, fomos a primeira associação do país a criar uma linha direta de apoio aos clubes para questões relacionadas com a pandemia, composta por três especialistas, que passaram a prestar os esclarecimentos necessários e a fazer a ponte entre os clubes e as entidades oficiais, para que tudo fosse devidamente analisado e autorizado, ao mesmo tempo que procurávamos manter a serenidade. Posteriormente, em junho passado, anunciámos um apoio financeiro aos clubes, no valor global de 180 mil euros, e estamos, desde então, em contacto regular com os responsáveis no sentido de, em conjunto, procurarmos soluções viáveis para os Clubes e as Associações, que permitam minimizar os prejuízos inerentes a todo este contexto.

6- Têm estado em permanente contacto com a Federação Portuguesa de Futebol e até com o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto?

R: Como pude referir anteriormente, a Associação de Futebol de Aveiro foi, desde o primeiro momento, um elemento ativo na procura de soluções para o desporto em Portugal. Estamos, desde então, em contacto permanente com os nossos Clubes, mas também com as entidades superiores, incluindo a Federação Portuguesa de Futebol, sendo que, mais recentemente, integrámos um grupo de trabalho que reúne regularmente com os responsáveis dos grupos parlamentares com assento na Assembleia da República. Na sequência destes encontros, foi solicitada a presença do Dr. Fernando Gomes, presidente da FPF, na audição pública da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, na qual interveio em representação das federações de futebol, basquetebol, voleibol, hóquei em patins e andebol, que representam cerca de 50% dos Atletas Federados em Portugal. Nesta audiência, foi possível expor os graves problemas que afetam o desporto e deixar algumas solicitações que nos parecem fundamentais para a sobrevivência de milhares de entidades desportivas em Portugal, sob pena de que, caso nada seja feito, tenhamos, no futuro, um tremendo prejuízo desportivo e social.

7- A construção da Cidade Desportiva em Aveiro é a grande meta que traçou para o seu segundo mandato. Em que consiste tal projecto? Acredita que conseguirá concretizar esse objectivo?

R: A Aldeia do Futebol de Aveiro surge na sequência do programa “Uma Associação, Uma Academia”, lançado pela Federação Portuguesa de Futebol, que visa dotar as associações de todo o país de centros técnicos. Neste momento, a Associação de Futebol de Aveiro não dispõe de infraestruturas desportivas próprias, o que obriga a que tenhamos a atividade espalhada por vários locais e pontos do distrito. Por isso, a Aldeia do Futebol pretende ser um projeto agregador, centrando toda a atividade da associação e permitindo dar vitalidade à zona desportiva de Aveiro, depois da parceria estabelecida com a Câmara Municipal da cidade para utilização do espaço.
Recordo que, antes da chegada da pandemia, tínhamos cerca de 17 mil atletas, 500 árbitros, 5 mil dirigentes, 410 jogos por semana e 1100 equipas, sendo que realizávamos – e continuamos a realizar – vários cursos de treinadores por época, com mais de 200 candidatos.
Nesse sentido, e para que possamos dar resposta às necessidades dos tempos modernos, este projeto prevê a construção de dois campos de relva sintética, um destinado ao futebol de 11 e outro ao futebol de 7, dez balneários, uma área dedicada ao futebol de praia e um pavilhão, que vão albergar os trabalhos das diversas seleções distritais, bem como de uma nova sede social da AFA, onde funcionará a área administrativa.
Estamos muito confiantes de que será uma melhoria significativa para o desporto em Aveiro. Uma obra marcante, que potenciará o desenvolvimento e a evolução de todos os intervenientes desportivos do distrito.

8- Também está na sua agenda a criação de um Campeonato de Esperanças destinado a atletas Sub-22. Será uma forma de valorizar os mais jovens?

R: Os Campeonatos de Esperanças Sub-22 de futebol e de futsal surgem na sequência de uma análise detalhada, realizada pelo Gabinete Técnico da Associação de Futebol de Aveiro, que nos permitiu perceber que a utilização regular de atletas nascidos em 2001 nos campeonatos distritais seniores é residual. Nesse sentido, decidimos avançar para a criação das provas com o objetivo de garantir aos jovens um enquadramento que lhes possibilite um maior estímulo competitivo e um tempo de jogo que fomente o seu crescimento e o desenvolvimento das suas capacidades.
É, como diz, uma forma de valorizar os jovens jogadores, que por vezes, e por diferentes motivos, não conseguem adaptar-se rapidamente às exigências da competição sénior. Desta forma, acreditamos que conseguirão fazê-lo através de uma transição mais suave, mas com perspetiva de evolução.
Convém reforçar, também, que a Associação de Futebol de Aveiro isentou os clubes da taxa de inscrição da categoria, como forma de encorajar os Clubes a darem este estímulo competitivo aos seus jovens jogadores, integrando-os na prova.

9- E as competições de futebol popular, nomeadamente a Liga de Futebol Popular do Município de Ovar, continuarão a merecer uma atenção privilegiada da Associação Futebol de Aveiro?

R: As parcerias estabelecidas entre a Associação de Futebol de Aveiro e as associações de futebol popular permitem um conjunto de sinergias que valorizam as competições e reforçam o trabalho digno que é realizado. Com isto, é possível alargar a base, criando-se condições para uma evolução positiva, de qualidade. Queremos continuar a fazer mais e melhor, possibilitando a melhoria das condições de organização de competições através de uma gestão autónoma, mas complementar, que salvaguarda os Clubes e os seus atletas, e potencia a formação de agentes desportivos.

10- Por fim, acredita que poderão despontar, nos próximos anos, inúmeros talentos das competições da Associação de Futebol de Aveiro que possam dar um salto de carreira até às ligas profissionais?

R: Os campeonatos da Associação de Futebol de Aveiro estão repletos de talento, quer ao nível sénior, quer nos escalões de formação. O futebol e o futsal do nosso distrito vêm demonstrando uma forte evolução, e estou convicto de que poderemos ter, nos próximos anos, vários atletas de Aveiro entre as elites das modalidades. Aproveito para congratular, uma vez mais, os nossos Clubes e os seus responsáveis pelo trabalho abnegado e de enorme qualidade que vem sendo feito.

Agradecemos, desde já, o tempo que dispensou para a realização desta entrevista.

Créditos da Imagem: Diário de Aveiro (Arquivo)