“Futebol: um catalisador de mudanças sociais” (Opinião)
2 de Dezembro, 2023O futebol é mágico por diversas razões. Pela forma como mexe com as emoções, a modalidade tem o condão de unir as pessoas, transcender barreiras e promover a inclusão social. A viver o futebol somos todos iguais, não há diferenças.
Na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) encaramos o futebol como uma plataforma para pessoas com deficiência praticarem desporto, mostrando as suas habilidades e aptidões em igualdade de condições. O futebol é, indubitavelmente, um catalisador para mudanças sociais. Ao promover a acessibilidade, permitimos que os adeptos com deficiência reivindiquem o seu lugar de direito, tanto no desporto, como na sociedade.
Olhando para os números, 50% das pessoas com deficiência nunca participaram num evento público ou desportivo. A nossa missão é baixar essa percentagem significativamente através de medidas e ações, as quais vão permitir também proporcionar uma experiência mais rica para os adeptos com necessidades específicas.
Através de práticas inclusivas e instalações acessíveis, podemos capacitar as pessoas com deficiência, promover mudanças sociais e criar um mundo mais equitativo e inclusivo para todos.
E é por isso que o projeto “Game On” apoiado pelo programa UEFA’s HatTrick é tão importante para nós. Queremos aprender mais e estabelecer modelos de acolhimento na experiência de jogo de futebol que façam realmente a diferença para os adeptos com necessidades específicas.
Este projeto, com o qual contamos com a imprescindível assessoria da Access Lab vai permitir-nos aprender a acolher estas comunidades de forma não assistencialista, mas sim promovendo cada vez mais a total independência de acesso a um jogo de futebol do adepto com necessidades específicas. Desde o momento em que compra o bilhete até ao momento em que sai do estádio.
O objetivo da Federação Portuguesa de Futebol é ajudar a estabelecer e a disseminar estes modelos de acolhimento – que por vezes nem necessitam de grandes investimentos financeiros, apenas de equipas formadas e capacitadas e que possam transmitir métodos e estratégias nos seus núcleos de influência no contexto da organização de eventos desportivos.
Vamos a exemplos práticos:
A audiodescrição nos jogos é uma ferramenta fundamental para que a população com deficiência visual possa acompanhar um jogo com a mesma emoção de um adepto que consegue ver o que se passa no relvado.
O Hino de Portugal interpretado em Língua Gestual pode parecer meramente performativo e simbólico, mas é extremamente importante para a inclusão das pessoas surdas no espetáculo que é de todos.
O acompanhamento informado das pessoas que se deslocam em cadeira de rodas, a planificação dos lugares para as pessoas de mobilidade condicionada, a disponibilização dos bilhetes para os seus acompanhantes, a acessibilidade a todas as áreas do estádio, o acesso aos estacionamentos, tudo isto faz parte de uma experiência que se quer independente e segura.
A disponibilização de uma sala de descanso (com estímulos visuais e sonoros reduzidos) para as pessoas com neurodivergência fazerem uma pausa se necessitarem, pode ser a diferença entre uma família ficar em casa isolada a ver o jogo ou ir ao estádio gritar por Portugal.
O caminho é longo mas temos de o fazer com responsabilidade e competência. Para que o futebol seja, de facto, para todos e todas, sem excepção.
O projeto “Game on“, que agora iniciamos e que será devidamente documentado, produzirá materiais técnicos de consulta que poderão ser utilizados por todos os organizadores de eventos desportivos, futebol ou qualquer outro desporto.
É por isso um projeto que nos entusiasma e motiva e no qual estamos envolvidos de forma empenhada, convictos que contribuirá para a construção de um mundo mais justo, igualitário e, logo, mais feliz.
Artigo da autoria de Cláudia Poças
Cláudia Poças é atualmente Diretora Coordenadora da FPF com tutela das Seleções Nacionais, Cidade do Futebol e Responsabilidade Social. Com mais de 10 anos de experiência na FPF, ocupou vários cargos tais como Gestora de Eventos, Gestora de Operações no Euro’2004, Coordenadora de Hospitalidade, Protocolo e Eventos corporativos, assumindo depois a função de Diretora Internacional no Departamento de DMC & Corporate da AIM Group International, em Lisboa, coordenando o departamento e identificando oportunidades para eventos em mercados internacionais.
Em 2016, regressa à FPF para o cargo de Diretora da Cidade do Futebol, onde supervisionou e coordenou todos os eventos corporativos e sociais organizados na sede da FPF. Cinco anos depois, juntou a esse cargo a tutela da Responsabilidade Social. Atualmente, acumula essas funções com as de Diretora Coordenadora com tutela das Seleções Nacionais.