Índia: entre o caos e a esperança no combate à COVID-19
15 de Maio, 2021Entre finais de Abril e inícios do mês de Maio, a Índia foi fustigada por um número colossal de casos de infecção por COVID-19. O número de casos diários chegou muito recentemente a superar os 400 mil. Neste momento, e de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde Indiano, cerca de 24,3 milhões de pessoas haviam sido infectadas com o Coronavírus, desde o início da pandemia. Ao todo, o país já contabiliza 266 mil óbitos, tendo ultrapassado o México e sendo agora apenas superado pelos Estados Unidos e Brasil que lamentaram mais mortes. Como se não bastasse, surgiu uma nova estirpe que agravaria os números já por si problemáticos.
Nas últimas semanas, o Sistema de Saúde da Índia tinha colapsado, não havendo meios técnicos e humanos para cuidar de mais pessoas infectadas. Chegou-se ao ponto de os hospitais não terem qualquer capacidade de resposta, enquanto pessoas doentes desesperadamente pediam ajuda no exterior. A ausência de ventiladores, camas e de remédios provocou um cenário apocalíptico. Uma cama chegou a servir para mais de uma pessoa.
De acordo com o testemunho da escritora Arundhati Roy que foi concedida ao jornal britânico “The Guardian”, faltou oxigénio num hospital privado de Nova Deli, durante uma hora e vinte minutos, o que terá provocado a morte de 12 pacientes e de 1 médico proeminente do hospital (que estava já também hospitalizado).
A Índia tinha a situação controlada durante o primeiro trimestre de 2021 (chegou a ter cerca de 20 mil casos diários em Março), contudo o Governo Indiano decidiu facilitar, acreditando que o vírus já estaria controlado, além de que o país era (e ainda é!), paradoxalmente, o maior produtor de vacinas (o Instituto Serum produz cerca de 60% das vacinas mundiais contra a COVID-19 e dele dependem 92 países). Em Fevereiro, o primeiro-ministro Narendra Modi declararia mesmo que a Índia tinha vencido a batalha contra a Covid-19, e o país tinha sido mesmo elogiado internacionalmente. Com o alívio das restricções, decorreriam eventos políticos (nomeadamente comícios) e religiosos em que milhares de pessoas participariam sem cumprirem as regras mínimas de segurança sanitária. Voltou a jogar-se críquete perante multidões nos estádios e os cinemas foram reabertos. Os ajuntamentos excessivos contribuíram para que uma nova vaga surgisse e os números alcançariam, por conseguinte, proporções gigantescas, tendo mesmo chegado aos 400 mil casos diários entre finais de Abril e inícios de Maio.
Como se não bastasse, a poluição atmosférica que se adensa no quotidiano indiano (nomeadamente em cidades fundamentais e populosas como Nova Deli e Mumbai) levou a que mais pessoas ficassem doentes. Se nos hospitais, a falta de oxigénio sentencia vidas, no exterior, é o fumo e a ausência de controlo no combate à pandemia que originam mais óbitos.
Na última semana, a Índia tem registado, em média, cerca de 4 mil mortes diárias por COVID-19. As morgues continuam cheias e as cremações não param!
No entanto, no dia de hoje, 15 de Maio, alguma esperança voltou aos horizontes do povo que é berço de algumas das mais importantes crenças religiosas mundiais. O número de casos diários por COVID-19 caiu, neste sábado, para os 326 mil, o número mais baixo desde 26 de Abril naquele país. Apesar dos óbitos diários continuarem elevados, o Governo voltou a tomar medidas restritivas de confinamento e com a chegada da ajuda internacional, é possível que o país venha a alcançar melhorias ligeiras, embora o cenário nas zonas rurais continue ainda por aflorar. Os testes realizados são claramente insuficientes, até porque estamos a falar de uma população de 1,36 mil milhões de indivíduos (ao todo, representam 15% da população mundial, sendo a Índia apenas superada pela China).
A campanha de vacinação na Índia ainda só alcançou 11% da população (cerca de 180 milhões de vacinas foram administradas; a maior parte esmagadora dos cidadãos vacinados ainda só tomou a primeira dose), um processo que tem sido lento e assimétrico, e o país já está a restringir a exportação de vacinas (como disséramos antes, é um dos principais produtores de vacinas contra a COVID-19), de forma a que sejam canalizadas para uso interno. Este cenário prejudicará vários países, muitos deles poucos desenvolvidos, que dependeriam da produção de vacinas oriundas da Índia.
Fontes utilizadas para a reportagem: The Guardian, BBC News, Expresso, Rádio Renascença (Reportagem de Hélio Carvalho), Diário de Notícias, RTP.
Créditos da Imagem: Francis Mascarenhas (Reuters)