
Movimento 2030 quer intervenção do MP no caso do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar (comunicado)
1 de Fevereiro, 2022Movimento 2030 apresentou ao Ministério Público uma participação para investigação de eventuais ilegalidades e/ou irregularidades na conceção e execução do Plano de Gestão Florestal do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar
Na sequência dos acontecimentos que consideramos muito graves do ponto de vista ambiental, ocorridos na nossa floresta e em consonância com as diligências que efetuámos, o Grupo Municipal do Movimento 2030 na Assembleia Municipal de Ovar apresentou ao Ministério Público uma participação com o objetivo de investigar e apurar todas as responsabilidades.
Não pudemos ficar indiferentes perante as diversas ações a que temos assistido na nossa floresta, nomeadamente, o abate florestal integral de pinheiro-bravo em grandes áreas e a resinagem “à morte”. A perspectiva da reflorestação meramente natural, potenciando a proliferação de espécies invasoras e a apreensão sobre a possibilidade de alterações urbanísticas indevidas, obrigam-nos a agir!
Encaramos com muita responsabilidade as mais de 11500 assinaturas que a petição “Salvem o Perímetro Florestal das Dunas de Ovar!” mereceu.
Resumo do Texto da Participação Apresentada
Exmo. Sr. Procurador dos Serviços do Ministério Público de Ovar
O Grupo Municipal (GM) do Movimento 2030 (M2030) na Assembleia Municipal de Ovar (AMO), com domicílio na Praça da República, n.º 61, 1.º Andar, 3880-141 Ovar, vem efetuar uma participação para investigação de eventuais ilegalidades e/ou irregularidades na conceção e execução do Plano de Gestão Florestal (PGF) do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar (PFDO), nos termos e fundamentos seguintes:
- O GM do M2030 na AMO teve conhecimento a 12 de janeiro de 2021 dos preparativos para o corte total de pinheiro-bravo em grandes áreas do PFDO, corte este que se veio a efetivar nos últimos dias. Devido à grande dimensão da área de floresta abatida e à potencial gravidade do ponto de vista ambiental desta ação, o GM do M2030 diligenciou para que fosse convocada uma reunião da Comissão Especializada de Urbanismo, Habitação, Ambiente, Equipamento Social, Património e Mobilidade da AMO, para discussão deste assunto e obtenção de informações fundamentais sobre este tema. No entanto, a convocatória da reunião foi rejeitada pelo Presidente da AMO.
- Desde então reunimos toda a informação possível, tendo encontrado alguma matéria que expomos nesta participação, com o objetivo de solicitar a Vossas Excelências uma investigação aprofundada com todas as consequências legais.
- A elaboração, aprovação e publicação a 22 de fevereiro de 2016 do PGF, prevê o abate integral de pinheiro-bravo em cerca de 30 talhões pertencentes ao PFDO, entre os anos de 2016 e 2026. Esse plano esteve em consulta pública, teve o parecer favorável da Câmara Municipal de Ovar (CMO) e juntas de freguesia envolvidas, apesar de se encontrar, segundo o Plano Diretor Municipal, num espaço florestal de conservação, podendo haver conflito entre os dois planos e, portanto, a possibilidade de existir aspetos irregulares que importa averiguar.
- A hasta pública do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com a referência N.º 02/DRCNFC/202, publicada em 2021 para alienação de material lenhoso, correspondendo ao abate florestal de alguns talhões do PFDO, incluiu os seguintes talhões identificados no PGF:
- 86 e 87, propriedade da Junta de Freguesia de Cortegaça, mas que não constam para abate no PGF aprovado;
- 88, propriedade da Câmara Municipal de Ovar, mas que não consta para abate no PGF aprovado;
- 14, propriedade da Junta de Freguesia de Cortegaça, cujo abate deveria ter sido executado em 2019, mas não foi realizado neste ano;
- 7, propriedade da Junta de Freguesia de Cortegaça, cujo abate deveria ter sido executado em 2020, mas não foi realizado neste ano;
- 63, propriedade da União das Freguesias de Ovar, S. João, Arada e S. Vicente de Pereira, cujo abate deveria ter sido executado em 2019, mas não foi realizado neste ano;
- 74, propriedade da União das Freguesias de Ovar, S. João, Arada e S. Vicente de Pereira, cujo abate deveria ter sido executado em 2020, mas não foi realizado neste ano.
- Por outro lado, os talhões identificados no PGF do PFDO para abate em 2021 são o 5, o 13 e o 70, o que não foi executado. Após verificação, não nos foi possível encontrar a hasta pública referente a estes talhões. Qual a verdadeira motivação e fundamentação legal para o alegado incumprimento do definido no PGF do PFDO aprovado? De notar que não estamos com isto a defender o abate florestal dos talhões definidos no PGF do PFDO, mas apenas a questionar a motivação e a legalidade do abate de talhões distintos dos constantes no plano aprovado.
- A calendarização dos abates florestais definidos no PGF da PFDO não é compatível com o tempo resinagem “à morte” (cerca de 5 anos), uma vez que estavam previstos abates no ano imediatamente após a aprovação do PGF. Aqui, também não estamos a defender a resinagem “à morte”, mas apenas a questionar a calendarização destas ações.
- Por último, mas não menos importante, tanto quanto nos foi possível apurar, não foram elaborados os relatórios anuais de execução do PGF do PFDO. A verificar-se esta suspeita, tal facto denota uma grande leviandade na sua implementação, além de todos os desvios na sua execução poderem estar feridos de ilegalidade.
O GM do M2030 está bastante preocupado, com o impacto ambiental da implementação do PGF da PFDO, com a motivação para a sua implementação e com as possíveis irregularidades na sua elaboração e execução, pelo que vem por esta via solicitar ao Ministério Público uma investigação de todo este processo, desde a conceção à implementação do referido plano, com a inquirição das testemunhas abaixo indicadas, a análise de toda a documentação em anexo e outra que se entenda necessária, bem como a consulta do site de internet do ICNF. De referir que as testemunhas indicadas terão acompanhado a elaboração, aprovação e/ou implementação do referido plano.
Os Participantes
Arnaldo Oliveira
Marco Braga
(Comunicado dos Membros do Grupo Municipal do Movimento 2030 na Assembleia Municipal de Ovar)