O que se passa na Proxima Centauri?
28 de Dezembro, 2020Nota Introdutória
Os cientistas acreditam actualmente que existem no Universo, pelo menos, 100 bilhões de galáxias, sendo que estas se encontram depois compostas por uma infinidade de sistemas estelares e planetários. Por exemplo, o planeta Terra insere-se no Sistema Solar que, por seu turno, integra a enormíssima galáxia da Via Láctea. Ao longo das últimas décadas, a Humanidade tem-se perguntado se existe vida inteligente em mais algum planeta do nosso Firmamento, e se esta possivelmente já nos visitou num determinado momento do passado.
Dentro deste contexto, nasceram projectos interessantes para aferir a eventualidade de detecção de uma civilização alienígena avançada. Um deles é, sem dúvida, o SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence, traduzido: Busca por Inteligência Extraterrestre) que visa analisar sinais de rádio de baixa frequência que podem ser emitidos através do Espaço Sideral, sendo que estes podem ser de origem natural (por exemplo, radiação proveniente das estrelas) ou artificial (neste caso, imprimido por alguma civilização extraterrestre com tecnologia de ponta). Mas a verdade é que as distâncias colossais de anos-luz entre os planetas, os sistemas estelares e as galáxias desencorajam qualquer aventura espacial ambiciosa, embora a tecnologia terrestre tenha alcançado um grande desenvolvimento nos últimos dois séculos.
Muito recentemente, os cientistas e astrónomos anunciaram que estão a investigar uma intrigante emissão de ondas de rádio que parecem ser provenientes de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol (fica “apenas” a 4,2 anos-luz de distância) que pertence ao Sistema Estelar – Alpha Centauri (este é constituído por três estrelas unidas gravitacionalmente: o par Alpha Centauri A e Alpha Centauri B, duas estrelas brilhantes e próximas no céu, e uma anã vermelha pequena mais afastada, a Proxima Centauri, da qual falaremos neste artigo, visto que a origem do sinal parece localizar-se na sua área espacial).
O feixe estreito de ondas de rádio foi captado durante 30 horas de observações pelo telescópio Parkes na Austrália, em Abril e Maio do ano passado (2019), de acordo com o jornal britânico The Guardian.
Apesar de não descartarem uma explicação natural ou mundana, a verdade é que os investigadores ficaram surpreendidos com a direcção do feixe estreito, situado em torno de 980 MHz, e com uma aparente mudança em sua frequência que poderá ser consistente com o movimento de um planeta, cenário que adensa a curiosidade dos cientistas.
O misterioso “Sinal Wow“
Em 15 de Agosto de 1977, o Big Ear Radio Telescope, instalado no Estado Norte-Americano do Ohio, detectou um sinal forte com duração de 72 segundos vindo do Espaço, um momento histórico sem precedentes. O sinal foi tão invulgar e poderoso que fez com que Jerry Ehman, professor e astrónomo norte-americano que analisou a detecção, anotasse a palavra “Wow” no papel onde os dados foram impressos (e daí se designou doravante este episódio como o “Sinal Wow”). Apesar de investigações posteriores, esta sequência não voltaria a ser repetida. Julga-se que poderá ser oriunda de uma estrela da Constelação Sagitário (ou de algum dos planetas situados naquela área sideral) localizada a 1800 anos-luz de distância. Foi sugerida a possibilidade de a radiação ter sido libertada pela passagem de um cometa, mas esta explanação encontrou pouco consenso na comunidade científica. Até hoje, o mistério persiste. Terá sido o primeiro contacto de uma civilização extraterrestre ou haverá uma interpretação mais lógica para este evento?
Outros sinais de rádio foram identificados ao longo das últimas décadas, mas a maior parte esmagadora prende-se com fenómenos naturais do Cosmos ou até com a interferência da tecnologia terrestre existente.
Além de concentrar a sua atenção na recepção de alegados dados oriundos do Universo, a Humanidade tem assumido a iniciativa de enviar mensagens para o Espaço (nomeadamente para algumas constelações), tentando entrar em contacto com alguma civilização. Por outras palavras, além do SETI, temos igualmente associado a este projecto: o METI (Messaging Extraterrestrial Intelligence, traduzido Mensagem para Inteligência Extraterrestre) que visa comunicar, por via de emissões de rádio, com eventuais civilizações que residam na órbita de determinados sistemas estelares. No entanto, as respostas às mensagens terrenas enviadas recentemente poderiam demorar décadas até chegar cá. Este tipo de procedimento chegou a ser criticado por alguns vultos científicos, em particular pelo conceituado físico britânico Stephen Hawking (1942-2018), que receava a possibilidade da Humanidade estar a atrair uma civilização capaz de entrar em contacto connosco que possa estar bilhões de anos à nossa frente em termos de desenvolvimento e inteligência, temendo um impacto muito inglório para a Humanidade e exemplificando, em jeito de comparação, com a descoberta da América que representou o fim de várias civilizações e tribos ameríndias às mãos dos conquistadores europeus. O medo de atrair o desconhecido é comungado por outros especialistas do mundo científico que temem a possibilidade de um primeiro contacto pouco pacífico.
Outras Justificações para os sinais de emissão de rádio
Apesar das emissões de sinais de rádio poderem ser consideradas pistas promissoras para a descoberta de vida extraterrestre com tecnologia avançada, a verdade é que as mesmas podem ser explicadas por causas de ordem mais natural ou mundana.
Em primeiro lugar, o planeta Terra é inundado diariamente de sinais de rádio já que o mesmo se encontra repleto de satélites para os mais diversos fins, incluindo de comunicação e militares. A consequência é a geração de muito ruído que pode interferir nas observações de radiotelescópios, fazendo com que os sinais detectados tenham afinal uma origem terrestre e confundindo assim os investigadores.
Outra explicação assenta na probabilidade dos sinais de rádio terem uma origem cósmica natural. De acordo com a revista Galileu que citou um estudo desenvolvido a partir radiotelescópio CHIME, no Canadá, a maior parte das emissões de rádio no espaço têm sido produzidas por um processo conhecido como radiação síncrotron, em que um gás de elétrons de alta energia interage aleatoriamente com um campo magnético, de forma que emitem energia em frequências de rádio. Geralmente isso acontece em buracos negros supermassivos, remanescentes de supernovas e gases quentes parados em galáxias. Os sinais também pode ser produzidos por um tipo de estrela morta altamente magnetizada, conhecida como “magnetar”.
Acredita-se que a maior parte esmagadora dos sinais detectados pelos radiotelescópios encontrem eco ou fundamento nestas duas últimas explicações encaradas como mais racionais e plausíveis. No entanto, há ainda casos que não foram explicados de forma cabal e decisiva. Por exemplo, o Sinal Wow de 1977 já foi sujeito a vários estudos e análises e ainda hoje carece de explicação oficial.
Relativamente à investigação de 2019 sobre os sinais de rádio provenientes da Proxima Centauri, ainda teremos de aguardar pela conclusão do estudo, que ainda será validado e publicado em periódicos científicos, para que saibamos mais dados concretos a seu respeito. Uma coisa é certa: seria uma completa ironia e um inédito acontecimento (iria até mesmo contra todas as expectativas) se encontrassem vida extraterrestre inteligente logo no sistema estelar vizinho ao nosso.
Que planetas orbitam a Proxima Centauri?
Inserida no Sistema Estelar de Alpha Centauri, a Proxima Centauri é uma estrela anã vermelha, que é orbitada, pelo menos, por dois planetas já identificados. Um deles, conhecido por Proxima Centauri C, é essencialmente gasoso (uma espécie de sub-Neptuno) que muito dificilmente albergará qualquer espécie de vida desenvolvida, enquanto que outro, denominado de Proxima Centauri B, é rochoso e encontra-se numa zona potencialmente habitável, com temperaturas minimamente aceitáveis (embora frias) e a possibilidade de dispor de oceanos à superfície. No entanto, isto não significa que a Proxima Centauri B tenha as condições necessárias para propiciar o desenvolvimento da vida até níveis complexos, podendo até mesmo ser hostil no que concerne à sua ocupação e evolução. O planeta poderá ter ficado comprometido com a radiação e as explosões solares que costumam ser liberadas pela sua estrela-mãe. A sua atmosfera poderá ter mesmo erodido ou ficado seriamente afectada, hipotecando nesse caso qualquer forma de vida sobre o solo. Se por ventura, o planeta ainda tiver uma densa atmosfera ou um forte campo magnético, a radiação poderia ser assim travada, permitindo a eventualidade do surgimento da vida. Este exoplaneta localiza-se a 4,2 anos-luz, e as suas condições de habitabilidade ainda são muito discutidas, esperando-se que no futuro se obtenham novos dados.
Não está descartada a possibilidade de esta estrela conter mais planetas na sua órbita. Refira-se que os dois planetas mencionados nesta rubrica só foram identificados recentemente. O planeta Proxima Centauri B só tinha sido detectado oficialmente pelos cientistas em 2016.
À primeira vista, sentimo-nos tentados a deduzir que a estrela anã Proxima Centauri é orbitada por planetas que não parecem reunir todas as condições desejáveis (pelo menos, de acordo com os padrões elaborados pelos cientistas) para que a vida pudesse prosperar e aprimorar-se ao ponto de ser o berço de uma civilização alienígena inteligente. No entanto, o desconhecimento pontifica as nossas divagações porque, na verdade, a informação até hoje recolhida sobre esta estrela e o seu restante sistema solar (Alpha Centauri) não permite qualquer tipo de conclusões seguras.
Paradoxo de Fermi vs Presença de Civilizações em Galáxias
O astrónomo norte-americano Frank Drake formulou, em 1961, uma equação que logo se transformou num argumento probabilístico de encontrar vida extraterrestre no Cosmos. Segundo os seus cálculos, era bastante provável a existência numerosa de civilizações alienígenas, contudo o seu estudo partiu de critérios e conjecturas que são difíceis de provar, fazendo com que a sua estimativa não seja mais do que um palpite.
Neste ano de 2020, a Universidade de Nottingham propôs a possibilidade de existirem 36 civilizações activas a comunicar dentro da Galáxia da Via Láctea. No entanto, a distância média entre essas civilizações poderia situar-se nuns longínquos 17 mil anos-luz de distância, dificultando a detecção e a comunicação com a nossa tecnologia actual. Mas uma vez mais, é outra estimativa que parte de bases bastante discutíveis porque, na verdade, pouco ainda sabemos do Universo que nos envolve.
Célebre foi o Paradoxo de Fermi, o qual é atribuído ao físico italiano Enrico Fermi (1901-1954), que confrontado perante várias afirmações que remetiam para a eventualidade do Universo estar preenchido de vida, questionou então onde os extraterrestres e as suas naves se encontravam e porque é que nunca entraram em contacto com o nosso planeta?
Há algumas explicações que podem ser enunciadas.
A primeira, a teoria da “Terra Especial”, alude à ideia de que a evolução registada no Planeta Terra teve por base inúmeras condições específicas que favoreceram o desenvolvimento complexo da vida. Os arguentes desta hipótese acreditam que serão muito poucos (ou até pode nem existir nenhum!) os planetas que poderão oferecer um cenário praticamente perfeito como o nosso. Também as crenças divinas hegemónicas sustentam a tese de que Deus criou apenas vida, em particular à imagem do Homem, no Planeta Terra, descartando à partida outras formas de existência avançadas no Firmamento.
A segunda justificação não implica a exclusividade do Cosmos para a Humanidade e sugere a célebre arenga científica já conhecida pelos astrónomos – as distâncias entre planetas/sistemas estelares são enormíssimas e quase impraticáveis. E estas só poderiam ser superadas por uma civilização com avanços tecnológicos muito superiores aos nossos. Seria necessário criar naves ou meios de transporte que ultrapassassem a velocidade da luz, estimando-se esta última em quase 300 000 km por segundo. Por outras palavras, poucas civilizações chegariam a esta fase, até porque muitas delas, mesmo seguindo o rumo tecnológico, poderiam acabar por comprometer a sua sustentabilidade através de guerras ou acidentes nucleares que arrasariam os seus planetas.
Outra hipótese, menos convincente, é a de que algumas civilizações aliens já sabem da existência humana no Planeta Terra, mas que preferem manter a distância por considerarem que se trata de uma espécie de “área selvagem ou jardim zoológico” que importa preservar, estudando pela via científica a nossa evolução futura.
Na verdade, este tema encerra em si muitos mitos, critérios e tentativas em descortinar o que se oculta por detrás da escuridão do Universo.
Estaremos sós?
Ninguém sabe!
Fontes Consultadas: The Guardian, BBC, Revista Galileu, Canal Tech, Revista Super Abril, ZAP Aeiou.pt, El País, CNN, National Geographic.
Imagem de Destaque: O radiotelescópio Parkes da Austrália detectou os sinais de rádio oriundos da Proxima Centauri entre Abril e Maio de 2019. Direitos da Foto: CSIRO/PR IMAGE in The Guardian.