Paróquia de Esmoriz (Ovar): Para que a Igreja deixe de ser um lugar estranho (notícia – “7 Margens”)
15 de Junho, 2022A Igreja não pode continuar a ser vista como um lugar estranho, diz a síntese paroquial de Esmoriz (Ovar), enviada para a diocese do Porto. Tem de “viver” mais, ser “uma Igreja de e para pessoas, uma Igreja justa e inclusiva” que acolha todos de forma pessoal. Prosseguimos a publicação de contributos para a maior auscultação alguma vez feita à escala planetária, lançada pelo Papa Francisco, para preparar a assembleia do Sínodo dos Bispos de 2023. Esse coro imenso de vozes não pode ser silenciado, reduzido, esquecido, maltratado. O Espírito sopra onde quer e os contributos dos grupos que se formaram para ouvir o que o Espírito lhes quis dizer são o fruto maduro da sinodalidade. O 7MARGENS publica alguns desses contributos, estando aberto a considerar a publicação de outros que queiram enviar-nos.
1- Como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje na nossa paróquia
Que ideia de Igreja foi apresentada pelos participantes?
Os participantes apresentam uma Igreja fechada, centrada em si própria, distante das pessoas e da vida do dia-a-dia, dividida, triste e ritualizada, não inclusiva; uma Igreja que precisa de se renovar na forma e no discurso.
Quais os temas mais debatidos?
Os temas mais debatidos incidem na necessidade de uma verdadeira escuta uns dos outros assente na escuta de Jesus; na necessidade de uma participação verdadeiramente efetiva de todos; no afastamento dos jovens; na dificuldade e incapacidade de ser e dar testemunho do que é ser cristão; no “esquecer” Deus em tudo o que dizemos e fazemos; na dificuldade em compreender a linguagem da Eucaristia; na vivência individualizada e individualista da fé; num pendor muito infantilizado e sentimental na vivência da fé; na falta de relação humana e de laços entre todos; na ausência ou défice da base familiar para a vivência comunitária da fé; na falta de espiritualidade; na necessidade de maior preparação, formação e cultura religiosa; na necessidade de espaços físicos que possibilitem e potenciem a comunhão e a participação; na necessidade de um serviço administrativo a funcionar convenientemente.
Quais os temas que criaram maior tensão ou discordância entre os participantes?
A maior tensão centra-se no confronto que acontece entre opiniões e vontades próprias das pessoas em geral e orientações e decisões do pároco e dos responsáveis dos diversos serviços e setores da pastoral. Predominantemente a discordância de perspectivas incide em questões litúrgicas (eucaristias mais curtas, homilias mais perceptíveis, cânticos mais alegres, uso de outros instrumentos, participação mais ativa das crianças e dos jovens…).
Quais os aspetos positivos ou negativos mais relevantes?
A possibilidade e a concretização de espaços de escuta é um aspeto amplamente apontado como positivo, bem como a decisão de se iniciar um caminho sinodal na paróquia.
Como aspetos negativos é apontada a falta de acolhimento de todas as pessoas, independentemente da sua circunstância (divorciados, juntos, homossexuais, famílias monoparentais…); a falta de espaços e oportunidades de conversas abertas com o pároco para esclarecimento de dúvidas, inclusive dúvidas de fé; a manutenção de hábitos e rotinas que “matam” a comunhão; e a resistência à mudança, especialmente se vai contra a perspetiva pessoal.
Quais os pontos de vista que merecem maior destaque?
A Igreja não pode continuar a ser vista como um lugar estranho. Tem de “viver” mais, caracterizar-se por mais ação, ser uma Igreja de rua e não de interior, uma Igreja de e para pessoas, uma Igreja justa e inclusiva, uma Igreja que, sem perder a sua identidade, acolha todos de forma pessoal e não como números.
2. Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?
Embora nos diversos encontros e meios de escuta as propostas de mudança não tenham sido feitas de forma explícita e objetiva, pode-se intuir pelas partilhas que foram feitas que as áreas em que a Paróquia necessita de conversão passam pela preparação e formação dos leigos; pela atualização da sua linguagem, incluindo a linguagem litúrgica, tornando o Evangelho mais próximo de hoje e compreensível para as pessoas, sobretudo os mais novos; por momentos de oração diferentes da celebração dos sacramentos; por uma catequese mais apelativa e mais dinâmica, que envolva também os pais; por uma atitude de acolhimento sem julgar; por uma presença do pastor mais próxima e mais constante junto das ovelhas; pelo conhecimento dos diversos grupos da paróquia entre si e com os paroquianos; pela capacidade de chamar e envolver grupos de fora nas atividades eclesiais; por uma Paróquia capaz de comunicar eficazmente, com uma linguagem simples e objetiva; por uma Paróquia que proporcione experiências de fé; por uma Paróquia mais disponível para dar atenção aos outros e mais célere na sua ação, principalmente junto dos mais frágeis.