
“Procura por bens sustentáveis cresce 71% à medida que o «eco-despertar» domina o planeta” – Comunicado WWF & ANP
19 de Maio, 2021Novo relatório internacional revela um crescimento acentuado da preocupação ambiental nos países emergentes e em desenvolvimento. O estudo mostra uma mudança inegável nos hábitos de consumo como resposta à crise planetária, e de que forma estas mudanças impactam diretamente nas empresas.
Um novo estudo internacional [1] da WWF, realizado pela Economist Intelligence Unit (EIU) revela um notável aumento de 71% de procura de bens sustentáveis [2] durante os últimos cinco anos, com crescimento contínuo, mesmo durante a pandemia da COVID-19.
O relatório intitulado “Eco-despertar: Medir a Consciência Global, Empenho e a Ação pela Natureza” mostra um aumento substancial dos cliques dos consumidores em busca de bens sustentáveis em países como o Reino Unido, os EUA, a Alemanha, a Austrália e o Canadá. Contudo, a tendência vai para além destas economias – de facto, acelerou também nas economias em desenvolvimento e emergentes – por exemplo a Indonésia (24%) e o Equador (120%). Isto, por sua vez, está a criar novas oportunidades de mercado para as empresas, particularmente nos setores cosmético, farmacêutico, da moda e alimentar.
Para Ângela Morgado, Diretora Executiva da ANP|WWF, “esta é mais uma prova de que a proteção do nosso planeta é cada vez mais uma exigência dos cidadãos, a que empresas e governos terão de prestar mais atenção e agir de forma a conseguirem responder a esta preocupação.”
Em todo o mundo, particularmente nos mercados emergentes, os cidadãos estão mais conscientes da crise planetária que vivemos, e essa consciência afeta o seu comportamento num estado de espírito global em rápido crescimento que a WWF apelidou de “eco-wakening”. Numa clara validação de uma tendência crescente, indivíduos e consumidores preocupados estão a agir nesse sentido e a exigir ação sobre a perda de natureza e biodiversidade.
Cristianne Close, Diretora de Mercados Internacionais da WWF, afirmou: “Já não é aceitável ou inteligente ignorar a sustentabilidade nos negócios, e é isto que os consumidores estão a dizer a alto e bom som com a sua procura online por bens sustentáveis. A preferência dos consumidores está a levar indústrias inteiras a mudar e nenhum mercado ou setor escapa. Esta investigação fornece validação a uma tendência assumida também nos mercados emergentes e em desenvolvimento – que a procura local e os consumidores no fim da cadeia de valor são importantes, e o seu comportamento está a impulsionar a mudança – e isto irá moldar a recuperação económica global da pandemia.
Para Cristianne Close: “Nas economias em desenvolvimento e mercados emergentes, os consumidores conseguem ver os efeitos da perda de natureza nos seus próprios países, à medida que a desflorestação, os incêndios, as inundações e as secas danificam estes territórios. Por isso, estão cada vez mais preocupados e, através das redes sociais, pretendem fazer ouvir a sua voz”.
O valor da natureza para a economia global, através dos serviços dos ecossistemas, está estimado em 44 biliões de dólares – mais de metade do PIB global – e o setor financeiro desempenha um papel fundamental no afastamento de fluxos financeiros de atividades insustentáveis e na criação de uma economia global positiva para a natureza. Empresas e instituições financeiras reconhecem cada vez mais os riscos associados à perda de biodiversidade, e estão a colocar esta questão no centro das suas estratégias.
Os consumidores estão no comando; a investigação existente [3] mostra que os consumidores não só afirmam que querem que as empresas façam melhor quando se trata de apoiar o ambiente, como também estão a mudar materialmente o seu comportamento nesse sentido. Este cenário está a deslocar lucros, desafiando retornos historicamente elevados em algumas áreas, enquanto se abrem oportunidades de mil milhões de dólares noutras.
John Elkington, uma autoridade mundial em responsabilidade corporativa, afirmou: “Este novo e provocador relatório da EIU sublinha o crescimento do interesse público – e preocupação – em todo o mundo. De forma surpreendente, alguns dos países que registaram o crescimento mais dramático em termos de preocupação têm sido as economias emergentes e em desenvolvimento. Dado que estes são alguns dos mercados em que investidores e líderes empresariais estão a apostar para os seus próprios lucros e crescimento futuros, as conclusões e recomendações da EIU precisam de ser levadas a sério – e estar no topo das preocupações – tanto pelos líderes do setor privado, público e cívico”.
O comportamento dos consumidores desempenha um papel crítico na condução da mudança e na demonstração de cuidado com a natureza. Esta pressão fez com que as marcas assumissem e mantivessem compromissos substanciais com a sustentabilidade. Por exemplo, mais de 50% dos executivos da C-Suite afirmam que a procura dos consumidores está a
impulsionar o enfoque na sustentabilidade na indústria da moda e têxtil e, consequentemente, 65% das organizações que participaram num inquérito recente afirmaram ter-se comprometido a adquirir matérias-primas produzidas de forma sustentável, e 60% estão agora a recolher dados sobre a sustentabilidade da cadeia de abastecimento – incluindo a utilização da água e de outros recursos naturais nos seus processos de produção. [4]
Para Ignacio Gavilan, Diretor de Sustentabilidade do Consumer Goods Forum: “Embora os consumidores tenham defendido produtos sustentáveis durante anos, 2020 marcou um ponto de viragem. A combinação da pandemia, a escalada da crise climática e uma nova consciência do consumidor desencadeou uma urgência e ação sem precedentes, com milhões de consumidores a exigirem mudanças. Este último relatório é um claro apelo à ação para a nossa indústria: agir ou ser deixado para trás. Os consumidores irão procurar e defender marcas que se comprometam com a sustentabilidade. Através das nossas Coligações de Ação, os nossos membros estão a trabalhar arduamente para mover a agulha e tomar medidas em prol da sustentabilidade”.
Outras empresas com milhões de dólares em receitas estão a seguir o exemplo, e a comprometer-se com a salvaguarda e proteção da biodiversidade. Nas indústrias alimentar, cosmética e farmacêutica natural, o número de empresas empenhadas em práticas de sourcing que protegem a biodiversidade aumentou 45% entre 2016 e 2020. A pressão da sociedade levou a ações governamentais e a mudanças visíveis no setor privado [5].
Ellen MacArthur, Fundadora da Fundação Ellen MacArthur, disse: “Esta investigação [EIU] mostra o quanto as pessoas valorizam o nosso planeta, a sua vontade de fazer mudanças para o proteger, e os seus crescentes apelos aos líderes mundiais para que tomem medidas significativas. É evidente que para enfrentar os desafios globais, tais como as alterações climáticas e a perda de biodiversidade, temos de abordar a raiz destas questões – uma economia cuja matriz compreende o conceito de desperdício e de descartabilidade. Este trabalho pode desempenhar um papel importante para reunir empresas e governos na construção de uma economia circular que elimina os resíduos, gera valor e regenera a natureza”.
A perda de natureza aumenta a vulnerabilidade a pandemias, minando os esforços para enfrentar a crise climática, e ameaçando os meios de subsistência de milhões de pessoas. Os líderes mundiais estão conscientes que terão de tomar decisões importantes no final deste ano [6] sobre o clima e o ambiente. Juntos, representam uma oportunidade importante para inverter a perda de biodiversidade e assegurar um mundo positivo para a natureza nesta década, em apoio à ação climática e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Notas para editor:
[1] O estudo da Economist Intelligence Unit (EIU), encomendado pela WWF, mede o envolvimento, a sensibilização e a ação pela natureza, em 27 línguas, e em 54 países, cobrindo 80% da população mundial, ao longo de cinco anos (2016-2020). O interesse público e a preocupação pela natureza aumentaram acentuadamente (16%) nos últimos cinco anos e continuam a crescer durante a pandemia COVID-19 (análise através do Google Trends).
[2] Análise da EIU através de dados do Google Trends sobre a popularidade das pesquisas de produtos amigos do ambiente nos 54 países do estudo, utilizando apenas a língua inglesa. As tendências de pesquisa de cada país foram avaliadas utilizando termos de pesquisa em língua local, bem como em inglês. Termos de pesquisa incluídos: Biodiversidade, Sustentável, Ecológico, Biodegradável, Ambiental. Os dados do Google Trends foram recolhidos para cada semana entre janeiro de 2016 e outubro de 2020.
[3] Uma investigação adicional mostra que, num recente inquérito online a mais de 6.000 pessoas em todo o mundo, 50% dos inquiridos afirmaram ter trocado produtos ou serviços porque uma empresa violava os seus valores. A razão mais citada para esta mudança foi apoiar produtos ou serviços que “protegem o ambiente”.
Fonte: Inquérito Hotwire, 2019.
[4] Inquérito da EIU, 2020
[5] UEBT, 2020
[6] A Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica está agendada para 11-24 de outubro de 2021. Os países deverão adotar um Quadro Global de Biodiversidade pós-2020. A WWF está a instar os países a assegurar um acordo de biodiversidade ao “estilo de Paris”, que trate tanto dos fatores diretos como indiretos da perda de natureza. A Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas está agendada para 1-12 de novembro de 2021. Os países são instados a assegurar uma mudança radical na ambição climática, incluindo o aumento da contribuição de soluções baseadas na natureza nos seus planos climáticos nacionais.
Sobre a ANP|WWF
A WWF é uma das maiores e mais respeitadas organizações independentes de conservação do mundo, com mais de 5 milhões de apoiantes e uma rede global ativa em mais de 100 países. A missão da WWF é travar a degradação da natureza e construir um futuro no qual os seres humanos vivam em harmonia com a natureza, através conservação da diversidade biológica do mundo, garantindo que a utilização dos recursos naturais renováveis seja sustentável, e promovendo a redução da poluição e do desperdício.
A ANP (Associação Natureza Portugal) é uma ONG portuguesa que trabalha em Portugal em associação com a WWF, com vista a conservar a diversidade biológica e dos recursos nacionais, procurando um planeta em que as pessoas consigam viver em harmonia com a natureza.
Créditos da Imagem – https://mood.sapo.pt/