Saúde esteve em destaque na última edição do programa “Passos do Concelho”
1 de Abril, 2021No passado dia 25 de Março, decorreu mais uma edição do Programa “Passos do Concelho” na Rádio Voz de Esmoriz, tendo em vista o debate político entre representantes partidários do município. Desta feita, o tema incidiu sobre a área da Saúde e contou com a presença de um painel constituído por Manuel Reis (líder da bancada do PSD da Assembleia Municipal de Ovar), Ismael Varanda (antigo candidato à autarquia pelo Bloco de Esquerda), Fernando Almeida (deputado da Assembleia Municipal de Ovar eleito pelo CDS-PP), Arturo López (dirigente do PS Ovar) e Paulo Pereira (representante do PCP).
Fernando Almeida, deputado municipal eleito pelo CDS-PP, começou por lamentar o facto de existirem unidades de saúde encerradas (exemplificou com o caso da Unidade de Saúde de Maceda, embora esteja agora a servir para fins de vacinação contra a COVID-19) e a inexistência de alguns serviços no Hospital de Ovar, como os de ginecologia, obstetrícia, urgências e pediatria, que foram encerrados há algumas décadas. Denuncia que pouco foi feito para reabrir o serviço de urgência básica no Hospital que deveria servir os mais de 50 mil habitantes do município, o que obriga as pessoas a deslocarem-se obrigatoriamente até ao Serviço de Urgências do Hospital de Santa Maria da Feira. Fernando conclui que há pouco “peso reivindicativo” da autarquia, mas aqui aponta essencialmente o dedo ao Partido Socialista (Governo e socialistas de Ovar) que deveria tomar ou exigir medidas neste domínio. Fernando Almeida indica que não existe sequer um hospital privado em Ovar, pelo que conclui que a população não está bem servida ao nível dos cuidados básicos.
Arturo Lopez, dirigente do PS Ovar e médico do Hospital de Ovar, elogia o papel desta unidade hospitalar que tem criado inúmeras formas de resolver o problema das urgências através de “vias directas de referenciação”, permitindo as orientações médicas e terapêuticas necessárias. Refere que o Hospital tem feito muito e excedido inclusivamente o seu potencial, mesmo não dispondo de muitos recursos, e que inúmeras pessoas acabam por ser atendidas, sem ser necessário o seu reencaminhamento para o serviço de urgências. Há muita patologia crónica que está a ser tratada no Hospital e sublinha que tem sido assegurado o acesso em proximidade a especialidades médicas e cirúrgicas de enorme relevância. Relembra que muitos pacientes têm vindo a ser operados no Hospital de Ovar com alguma celeridade, tendo alta dois ou três dias depois. No entanto, reconhece, por outro lado, que é importante que seja novamente reimplementado o Serviço Local de Saúde para que a capacidade de resposta perante as comunidades se torne eficaz.
Ismael Varanda, pelo Bloco de Esquerda de Ovar, defende uma potenciação de algumas valências oferecidas pelo Hospital de Ovar e a necessidade de uma urgência básica em Ovar (acredita que 80% da população vareira poderia ser atendida aqui em vez de ir para o Hospital da Feira). Por outro lado, Ismael receia que esteja em curso o cenário de um eventual “desmantelamento do Hospital de Ovar”, recordando que esta unidade assenta, em grande parte, no papel de médicos tarefeiros (contratados fora e que normalmente custam mais dinheiro) em vez de ter um corpo clínico fixo. Considera que a postura do PS na área da saúde é ambígua, não se percebendo se há investimento ou desinvestimento nos hospitais. Lamenta ainda que hoje o Sistema de Saúde em Portugal esteja essencialmente focado no lucro (no caso dos privados), nas poupanças (da parte do Governo) ou na progressão das carreiras dos profissionais de saúde, enquanto as pessoas aparentam ser apenas a derradeira prioridade.
Paulo Pereira, representante do PCP, recorda que há cerca de 4 anos o Partido Comunista elaborou um manifesto com 7500 assinaturas tendo em vista a reabilitação e valorização do Hospital de Ovar. Lamenta que hoje não é possível uma articulação em rede entre o Hospital de Ovar e as Extensões de Saúde Local, até porque as unidades de saúde de Maceda, São Vicente Pereira, Arada e Furadouro estão praticamente encerradas. Denuncia que a pandemia tem sido um “bode expiatório” perfeito para se encerrarem postos de saúde no país e que agora alguns responsáveis superiores admitem reservas em reabrir por não considerarem ser um procedimento vantajoso. Lamenta que já não há programas de apoio ou de prevenção destinados ao comum cidadão, e que a ausência de acompanhamento e dos cuidados médicos de proximidade poderão agravar o estado de saúde de inúmeros utentes. Concorda que o Hospital de Ovar tem boas valências mas sublinha que estas ainda são poucas. Conclui que não há peso político em Ovar sobre esta questão ou que pouco tem sido feito para que os cidadãos façam valer os seus direitos.
Manuel Reis, líder da bancada do PSD da Assembleia Municipal de Ovar, iniciou a sua participação, prestando homenagem a todos os profissionais de saúde pela sua disponibilidade e empenho incondicionais ao longo desta conjuntura pandémica. Defende que deveria haver mais reconhecimento do seu trabalho por parte da Tutela e por parte da população (sendo que esta deveria ser mais compreensiva e cumprir os deveres de confinamento). Concorda com as críticas de Fernando Almeida, participante do CDS-PP, quando refere que se reabriu recentemente, por capricho político, um serviço de urgências em São João de Madeira, tendo sido ignorada a situação do Hospital de Ovar que continua sem essa funcionalidade. Também está de acordo com Ismael Varanda quando este menciona que pode estar em causa um eventual desmantelamento da unidade hospitalar vareira. Manuel Reis reconhece, ainda assim, que a direcção e as equipas do Hospital de Ovar têm feito milagres com os poucos recursos de que dispõem. Recorda que a Câmara Municipal de Ovar investiu nos Postos de Saúde de Maceda, do Furadouro e São Vicente Pereira, contudo lamenta que a Tutela prefira poupar do que investir na defesa dos direitos dos utentes que estão desprovidos de um serviço de acompanhamento contínuo. Nesse contexto, desafiou o Governo a colocar em prática o investimento que tinha sido previsto para o desenvolvimento do bloco operatório no Hospital de Ovar, além de proceder à reabertura integral dos postos de saúde que estão encerrados ou a funcionar parcialmente. Por outro lado, relembrou que também não percebe porque é que o Governo não investe na defesa da costa, concluindo que as prioridades não estão a ser bem definidas.