Serra da Freita – um tesouro ambiental aqui tão perto (Reportagem)

25 de Julho, 2021 1 Por A Voz de Esmoriz

Neste Domingo de manhã, a Associação do Arouca Geopark promoveu uma nova edição da “Rota dos Geossítios” em plena Serra da Freita, uma iniciativa que curiosamente coincidia com o dia em que esta iniciativa em particular celebrava seis anos de existência.

Em termos de valorização do lugar, o Arouca Geopark integra a rede mundial de geoparques desde 2009 (reconhecido pela UNESCO devido ao seu património geológico). Durante a visita guiada, é de sublinhar o papel primordial da guia intérprete Naír Chaves que apresentou alguns dos cartões de visita daquele sítio ambiental, elucidando bem os participantes que aderiram portanto à iniciativa.

As condições atmosféricas adversas impediram a realização natural da caminhada, contudo através da deslocação por via automóvel, visitaram-se os principais pontos de interesse da Serra da Freita. Ao todo, a rota seria composta por 41 sítios de interesse geológico.

A Serra da Freita, com uma altitude máxima de 1090 metros (o ponto mais elevado situa-se no Detrelo da Malhada), é um dos principais pontos de interesse ambiental do nosso país, situando-se no concelho de Arouca. Pontuada pelo rio Caima, e pela sua apaixonante Frecha da Mizarela, e ainda pela proximidade do Rio Paiva, a Serra conjuga o melhor da geologia, biodiversidade e história. No seu planalto, subsistem pequenas aldeias, nomeadamente Albergaria da Serra (com 105 habitantes; é a principal localidade ali existente), e outras mais pequenas – Castanheira, Cabaços e Merujal – que são mesmo habitadas por muito poucas pessoas (nalguns casos, entre 5 a 10 pessoas por aldeia).

Efectivamente, ficámos a saber que o espaço ambiental é reconhecido nacional e internacionalmente por três situações peculiares que o tornam praticamente único no nosso planeta.

Começando pelo indissociável interesse geológico, encontramos as célebres pedras parideiras (isto é, pedras que geram novas pedras; destaque para a existência de um Centro Interpretativo bem elucidativo na aldeia da Castanheira, onde podemos encontrar os melhores exemplares desta pedra), são únicas na Serra da Freita pela simples razão que brotam de um afloramento rochoso granítico (existem também pedras parideiras na Rússia, contudo são formadas através de rochas diferentes do granito). Desde cedo, a sua existência remonta a tempos imemoriais e alimentaram-se, desde cedo, interpretações místicas e supersticiosas por parte dos povoados rurais que aí viviam. Efectivamente, chegou-se a acreditar que estas pedras tinham poderes mágicos capazes de favorecer a fertilidade ou trazer uma boa nova a quem as utilizasse. Certo é que, da concavidade negra, de onde surgem, por erosão, as pedras parideiras, já não é possível “nascerem” outras, o que nos revela mais uma particularidade. Além das suas pedras parideiras, a Serra da Freita possui ainda as pedras boroas (porque se assemelham ao formato de uma broa; visíveis no sítio do Junqueiro) e as dobras (deformações de rochas com tendência de encurvamento).

No entanto, a Serra da Freita não é apenas conhecida pelos seus pergaminhos geológicos. E aqui residem mais duas novidades que a tornam única. A descoberta de fósseis bem conservados de trilobites, artrópodes do Paleozóico (isto é, animais que existiram em ambientes marinhos entre 251 a 542 milhões de anos atrás), tornou o espaço ainda mais apelativo para biólogos e investigadores. A terceira novidade, prende-se com os “icnofósseis”, isto é vestígios da passagem destes mesmos animais pelos afloramentos que ali subsistem há milhões de anos.

Outro ponto de interesse é naturalmente a biodiversidade. Ao nível da flora, detectámos a: genciana-das-turfeiras (em estado de conservação vulnerável no mundo; fundamental para a sobrevivência da borboleta-azul-das-turfeiras), a fritilária, martelinho, narciso, tulipa brava e orvalhinha (planta insectívora). No que diz respeito à fauna, é de realçar as libelinhas, salamandras, rãs, tritões, sardões, águias cobreiras, águias d’asa redonda, borboletas (nomeadamente a do medronheiro e que necessita desta árvore para sobreviver), cobras, corços (embora em número razoável), lobos ibéricos (cujo estado de conservação suscita preocupação na Península Ibérica), corvos, peneireiros, guarda-rios, esquilos vermelhos, javalis, melros, ouriços cacheiros, etc.

Nos rios, destaque para a presença de bordalos, barbos ou bogas do Douro. Refira-se que as águas destes cursos são puras, e daí a natural afluência de animais.

A presença humana na Serra da Freita é também muito antiga, remontando ao Megalítico. Chegaram a construir-se antas e dólmenes, de forma a que estas comunidades primitivas realizassem as suas cerimónias fúnebres.

Em jeito final de curiosidade, temos ainda de elencar a existência de um projecto – o “Geofood” – uma rede ou plataforma apoiada pelo Arouca Geopark que permite aos produtores locais da Serra da Freita (que vivem essencialmente da agricultura) venderem os produtos alimentares de forma natural, chegando de forma saudável aos paladares dos visitantes. A ideia de que o intercâmbio é fundamental para que a produção espelhe fielmente a essência única do lugar, equilibrando com a necessidade de valorização de quem se dedica a produzir o melhor que aquele lugar pode oferecer.



A Serra da Freita proporciona igualmente miradouros ambientais fantásticos.