“Sobre as bodas de ouro do nosso amigo Francisco Pinho” (Opinião)

2 de Novembro, 2023 Não Por A Voz de Esmoriz

O convite foi-me entregue e, sem hesitar, logo disse que seria com muito prazer, que estaria presente.

O Manuel Francisco Gomes de Pinho e, a Maria Bernardina da Silva, neste dia de festa, bem merecem a companhia dos amigos.

E, ao Francisco, devo dirigir algumas palavras, que, serão um acrescento ao sentimento de gratidão, por me ter convidado e, também, à Elisiária, no respeito por uma franca amizade.

E, neste espaço, já que em um outro as palavras seriam mais adequadas, mas e, a opinião é só minha, o representante da Igreja, vulgarizou um acto, tornando-o público, quando, pelo que significa, especialmente para o casal, devia ser restrito, para os seus convidados.  

Alguns dos presentes sabem, conhecem o conteúdo dos seus vários livros e, foi neles, que procurei a matéria, para alinhavar esta intervenção.

As citações, irão surgir e, ouvindo-as, os presentes, melhor e, mais profundamente, passarão a conhecer o Francisco.

Li o que escreveu e, as palavras são dele “vou contar as maiores façanhas da minha vida, as coisas boas e, as más, as tristezas e, as alegrias, vivências de um ser, que como tantos outros, anda cá, neste mundo, cabisbaixo, pensativo, apreensivo, infeliz, muitas vezes, por causa dos outros seres, que nos votam abaixo, com as maiores e, perversas ideias de cá, fazerem mal aos outros seres”

Os seus desabafos, neste período de tempo, que não é muito longo, pois só a partir de meados de 2018, por via de uma arrumação das coisas de um casa, passamos a estar por perto, reflectem aquilo, que pensa e diz.

Mas, de mim, sempre tem ouvido palavras de apoio, de incentivo, para continuar, não se deixar ir abaixo, como diz, por que a sua frontalidade, sempre tem surgido na defesa das causas, que são de todos e, não só dele.

Os visados, só alguns, com a verdade que escreve, sentem-se melindrados, feridos no seu ego e, erradamente, pretendem fazer calar, por que acabam por mais acicatar a sua vontade de outras verdades descobrir e, as contar.

O Francisco, como uma grande maioria das pessoas, é daqueles, que sabem, que a vida deve ser vivida no perseguir de metas, de realização de sonhos.

E o Francisco, também sonhou; “durante todos estes anos de vida, quis ser um filósofo, um músico, um humorista disfarçado, com uma capa de palhaço, para tentar alegrar os outros”

Daquilo que conheço dele, destas três vontades, só de uma já desistiu: a de ser músico e, porquê? Duas são as fortes razões; a primeira, prende-se com um acidente de trabalho, que lhe feriu um dedo, que o impossibilitou, durante dois anos, de continuar os ensaios, sob a orientação do senhor Avelino, residente em Válega, um ex emigrante, na Argentina que, por lá, exercia a profissão de barbeiro e, prestava serviço no palácio presidencial, onde era o artista de preferência, que tratava do cabelo do presidente Perón.

Recuperado do acidente, quando se sentia preparado para recomeçar a praticar, a notícia da morte do Senhor Avelino chegou e, a decisão de não continuar, de desistir, foi assumida. Foi esta triste noticia, a segunda razão do seu abandono.

Em momentos de maior angústia, como diz, ainda dá uns toques no violão.

Se é, ou não, um verdadeiro filósofo, não sei, mas sei, que são vários os livros, que tem escrito, em prosa e, em verso e, neles transmite o que pensa, se exprime e, publica.

E se de publicação se fala, tantas vezes o tenho ouvido referir-se, de forma elogiosa e, muito agradecida, a algumas pessoas, que, pagando a factura, colaboram, facilitando o espalhar das suas ideias, o distribuir do seu saber, recheado, com motivos de interesse, para alguns e, assim nos diz “tive sempre uma ideia nos meus miolos, não gostava de levar para debaixo da terra, tantas coisas boas, que aprendi e, que são úteis, para depois ficarem apodrecidas, a cheirar a bafio, a mofo”.

Francisco, esse teu receio, está salvaguardado, com a publicação dos teus livros. Algumas pessoas, os vão lendo, outras, só os compram, mas a tua intenção de divulgar o teu sentir e, o teu saber, isso, nos livros está contido e, a tua missão é cumprida.

Quanto ao ser palhaço, no sentido, para alegrar as outras pessoas, penso que o terás conseguido, pois, pelas tuas imensas passagens pelo palco, em representações teatrais, muitas pessoas tens feito sorrir e, de forma aberta e, franca, muito rir.

A dança popular, já sentiu a tua presença, pois, em tempos de disponibilidade, andou por Rio Meão, integrado num dos Ranchos Folclóricos lá do sítio.

Uma sua outra confissão, eu a lí e, por ele foi escrita – “Fui sempre um pouco multifacetado, vaidoso, snob, amigo da minha amiga, ou de um bom amigo, a todos muitos idolatrei e, respeitei e, alguns amigos os levarei, no meu cérebro, para o coval”.

Ao assim se manifestar, o Francisco, mostra aos que o não conhecem, aquilo que é e, aos que com ele convive, a sua afirmação de uma verdade indesmentível.

Mas, vai alertando, alguns, talvez os menos cuidadosos, que; – “Não pense aquele, ou aquela, que lá por que frequenta a Santa Missa, ao domingo, que batem no peito, a pedir perdão a Deus, que vão à mesa da comunhão, que, com esse gesto, já serão perdoados”.

Ele, sabe, que há maldades, que tem suportado, que, na sua condição de homem, não conseguiu, ainda, esquecer, mas, também, não alimenta aquele sentimento de vingança, que lê nos olhares de alguns e, que, por certo, outros, julgados de poderosos, a ocupar cargos, que, com o tempo se esvaem, como a água em vasilha rota, aguardam no seu coração malicioso, a oportunidade de desferir o seu golpe vingativo.

E, quando digo, que não alimenta o sentimento de pessoa vingativa, faço-o, por tudo aquilo que dele conheço e, também, pelas suas palavras, que escreveu; – “como homem criado, fiz bem a muita gente, nunca quis mal a ninguém e, assim, sempre me senti com o maravilhoso sentir de pureza e, singeleza”.

Pessoalmente, sempre o vi livre e, disponível, para corresponder a várias solicitações e, à prestação de ajuda, fosse em que circunstâncias fosse.

Junto de muitas pessoas, algumas nem conhecidas eram, serviu-se das práticas e, habilitações adquiridas, aquando da sua estada, em Caracas, capital da Venezuela e, no Hospital do Terço, no Porto.

E, foi aplicando os seus parcos conhecimentos de enfermagem, de reumatologia e, de medicina desportiva e, a coberto de um outro certificado, tratou de verrugas e, de unhas encravadas.

Em terras de Moçambique, ao serviço da Nação, a sua “especialidade” de enfermeiro, para além do serviço normal, prestado junto dos soldados portugueses, ajudava os povos da região e, em situação extrema, prestou assistência, no parto, a uma mulher africana.

E, este nosso amigo Francisco, rompeu o fundilho das calças nos bancos da Escola, à noite, pós trabalho, tendo obtido um dos seus diplomas, na Escola Ramiro Relvas, em Paços de Brandão e, dele se tem servido, para justificar as suas pinturas, em quadros, que, com gosto e, satisfação, oferece.

Digo-vos, em minha casa, tenho dois quadros, assinados por ele, em lugar de destaque.

Mas, não deixou de respeitar o tempo e, aproveitar, a escola da vida e, com uma pontinha de orgulho, vai dizendo; “falo quase correcto o espanhol, bastante italiano, muito francês e, algum inglês. Sou diplomado de cozinheiro de terceira classe, barmam internacional (fazedor de coktail’s) e, empregado de mesa de 1º. Categoria.

O Francisco, teve uma infância difícil, conta ter passado carências mil, ter olhado, milhentas vezes, a mesa vazia de pão e, com a expressão de gratidão, fala de algumas pessoas, que muito o ajudaram e, o alimentaram, em tempos difíceis, que às crianças de hoje, não deseja.

Como muitos outros rapazes do seu tempo, também saltou o muro, para “ir à fruta”. Lembra, como um proprietário lhe perdoou, perante a GNR, dizendo; “vai embora rapaz, na tua idade eu fazia o mesmo, mas não voltes ao meu quintal”.

A ilustrar as dificuldades, que suportou, refere, com um sorriso, como teve as primeiras sandálias: “a costureira Zulmira da Zefa, uma sua vizinha, aproveitou a sola de umas sapatilhas velhas de um adulto, fez o molde e, completou a obra, com pano, uma argola e, um fio”.

No tempo da sua juventude, uma grande maioria dos mancebos, tinha como destino de vida, fazer parte dos contingentes, que partiam para África, para defender aquelas velhas extensões da Pátria mãe.

Nem todos voltaram e, o Francisco, decidiu perpetuar a sua memória, num pedaço de argamassa, que está no sítio adequado, o cemitério.

Em Moçambique, cumprindo a missão militar, as peripécias, foram mais que muitas, diversificadas, com o cunho do agradável e, do muito complicado, mas, o seu regresso aconteceu e, nesse dia, se sentiu feliz e, tinha livre o caminho, para dar continuidade a um desejo, que alimentava, desde miúdo; “queria ser um grande rio, com muitos peixes, para alimentar este mundo cruel, que anda esfomeado”.

Mas, para poder alimentar, não meio mundo, mas a sua família, andou pela estranja, por lá muito trabalhou, pouco amealhou e, voltou. Por cá, continuando a trabalhar, foi o homem dos sete ofícios e, foi dando continuação ao seu pensar, que se prendia com; “durante a minha vida toda, tentei desenvolver-me em vários ofícios, para ter na sociedade, sempre mais uma luz, ao fundo do túnel.

E, ao ouvir o Francisco, falar do pai e, de sua mãe, entendemos muitas coisas, que se prendem com o seu muito querer e, respeitar, no mais puro sentimento de filho responsável.

Do seu querer ao pai, quem dúvidas poderia ter, ficou devidamente esclarecido, ao perceber o que significava o singelo “monumento”, que em sua honra, conseguiu implantar, na zona de barriscos.

E, de sua mãe, tantas são as lembranças, o recordar de situações deveras queridas e, difíceis, muitas de sofrimento, todas elas compensadas, com algumas de muito carinho.

E, de forma simples, o Francisco a cantou:

Amor de mãe é tão grande

Que quando um filho a magoa

Não protesta, não se expande

Sofre em silêncio e perdoa

E a retratou:

Minha mãe de olhos verdes lindos

Deixaste-me neste mundo à sorte

Os meus sonhos ficaram findos

Tão nova te venceu a má morte

Mas, a vida não parou e, ele sabia, que a vida e, a comida, quando partilhadas, são mais saborosas e, com a partida de sua mãe, quando tinha apenas 13 anos, por cá foi vivendo e, uma outra mulher, acabou por encontrar; a Maria Bernardina, lá para as bandas de Avanca.

Casaram, passaram a viver na Casa Vermelha, em Avanca, constituíram família e, durante estes cinquenta anos, lado a sem esquecer que a vida se assemelha a uma estrutura, que foi armada, mas que ameaça, a todo o momento ruir, tal é a sua fragilidade, lado, a lado, foram percorrendo um caminho, nem sempre fácil, que espero tenha continuidade, por muitos mais anos, em felicidade plena.

Termino, endereçando ao casal, aos seus filhos, os Parabéns e, aos convidados, um obrigado, pela atenção que me dispensaram.

Florindo Pinto

22/10/2023