Taliban avançam no Afeganistão e ameaçam controlar o norte do país
10 de Agosto, 2021Numa altura em que as forças ocidentais começam a retirar-se gradualmente do Afeganistão, os taliban estão a aproveitar para ganhar terreno. Se nos últimos vinte anos, os fundamentalistas islâmicos, então fustigados pelas investidas das forças ocidentais, controlavam apenas vilas e aldeias de zonas rurais ou montanhosas, a verdade é que o rumo dos acontecimentos está a mudar do ponto de vista geopolítico.
Os taliban já não dominam bastiões ou territórios isolados, tendo já ocupado nos últimos tempos oito capitais de província, a saber: Kunduz, Sar-e Pul, Taloqan, Aibak, Zaranj, Lashkar Gah, Farah e Pul-e-Khumri. Na zona norte do país, têm vindo a intensificar a pressão sobre as tropas governamentais, e a escalada de violência tem sido visível, preocupando as organizações internacionais.
De acordo com relatos no terreno, há um número crescente de crianças que estão a perecer devido ao conflito. Também activistas, jornalistas, funcionários públicos e juízes a favor do governo de Cabul estão a ser mortos pelos taliban.
No entanto, o primeiro grande teste às forças afegãs ocorre agora em Mazar-i-Sharif, maior cidade do Norte do Afeganistão, que começou a ser cercada nos últimos dias pelos taliban. Ali viviam até então cerca de meio milhão de pessoas. Se esta urbe cair nas mãos do taliban, o governo de Cabul deixa de ter controlo no norte do país. Muitos habitantes estão a fugir desesperadamente da cidade, um êxodo massivo e preocupante. Por outro lado, nas últimas 24 horas, também se registaram fortes combates nas províncias de Nangarhar, Kunar, Logar, Paktia, no leste; em Maidan Wardak, centro, e nas zonas meridionais de Kandahar e Helmand.
Para já, ainda não se conhece o número de baixas das forças governamentais, embora o Ministério da Defesa de Cabul refira que, pelo menos, 361 combatentes talibans foram mortos e que outros 125 ficaram feridos.
Parecem subsistir poucas dúvidas de que o avanço dos insurgentes coincide com o início da retirada das tropas norte-americanas e de forças aliadas da NATO, processo que deverá ser finalizado até aos derradeiros dias de Agosto.
O Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, não quer reverter a decisão que há havia sido tomada pelo seu antecessor Donald Trump, e o Pentágono, apesar de demonstrar preocupação devido aos últimos desenvolvimentos, acredita que as forças de segurança afegãs têm capacidade para combater os taliban e que devem assumir a responsabilidade de combater pelo seu país.
Entretanto, decorrerão muito em breve reuniões no Qatar, entre representantes de todas as partes envolvidas. De acordo com a SIC Notícias, o enviado norte-americano, Zalmay Khalilzad, vai pressionar o grupo radical islâmico para que termine o avanço nas cidades afegãs e tentar negociar um acordo político.
Apesar da inflexibilidade norte-americana, muitas são as vozes que se opõem à retirada das forças internacionais do Afeganistão nesta altura, e muitos temem que os taliban venham a recuperar o controlo que tinham antes de 2001, altura em que os EUA e seus aliados invadiram o país para combater o terrorismo da al-Qaeda, liderada então por Osama Bin Laden, que havia sido responsável pelos ataques do 11 de Setembro de 2001. Na altura, o regime taliban liderado por Mullah Omar (apesar da resistência da Aliança do Norte que fazia frente aos fundamentalistas) foi responsabilizado por dar guarida e apoio a Osama Bin Laden. No entanto, Mullah Omar, responsável por algumas fugas bizarras (correu o rumor internacional que, debilitado e apenas com um olho de visão – devido ao conflito que travara em décadas anteriores pela independência do país contra os soviéticos, havia deixado Kandahar de bicicleta ou de mota rudimentar, aquando dos bombardeamentos ocidentais), nunca viria a ser capturado, pelo que a sua morte, em circunstâncias ainda por apurar (há a hipótese de ter falecido devido a uma doença), só tenha sido comunicada em 2015. Por seu turno, Osama Bin Laden foi morto em 2011 numa operação militar norte-americana em Abbottabad, no Paquistão.
Créditos da Imagem: REUTERS/Omar Sobhani