
Tertúlia literária decorreu em Esmoriz
7 de Agosto, 2024Escritores da Irlanda, Londres, Macedónia, Estados Unidos, Tomar, Coimbra e Porto, Portugal reuniram-se no passado fim de semana no solar que pertenceu à família Lopes Barbosa, nas imediações da histórica Escola Relva, em Esmoriz.
O retiro e workshop foi organizado pela escritora irlandesa Jane Gilheaney, que escreve ficção e poesia gótica, e também por Wendy Lee Hermance, escritora americana de narrativas não-ficcionais e de poesia que vive em Esmoriz. Outros participantes juntaram-se a este sarau cultural, nomeadamente um professor de literatura inglesa, um escritor de ficção policial e um antigo repórter e dramaturgo do Irish Times.
Todos os escritores escrevem em inglês nativo. Wendy tem um livro traduzido para português europeu pelo tradutor literário lisboeta José Lima.
As sessões desta tertúlia decorreram em toda a casa e nos seus respectivos jardins. O tema do evento incidiu em encontrar uma nova inspiração e seguir em frente, definindo novos objetivos literários/culturais e traçando sonhos. Espera-se que este evento venha a ser realizado novamente no próximo ano.

Portugal, dou-te a minha palavra
Oh, Portugal,
Se pudesse tomar-te nos braços e sufocar-te de beijos, era o que faria.
Os teus gatos desafiadores, furtivos.
As tuas pedregosas pedras.
A tua obstinada recusa da tirania e do fascismo.
Os teus belos montes e montanhas evanescentes.
O teu cepticismo, o teu senso comum, tão terra-a-terra.
O teu elevado intelecto, os teus cafés despretensiosos, as tuas baías.
Os teus caminheiros por veredas da serra colhendo flores.
O teu oceano tentador, os teus pequenos charcos tranquilos, as tuas quintas elementares.
Os teus poetas, os teus emigrantes, os teus tecelões.
Os teus trabalhadores do campo, os teus sapateiros, os teus artistas de circo. Os teus engenheiros civis, os barristas, os oportunistas e fala-baratos.
As tuas sigilosas mulheres a dias polindo todas as coisas até as deixar a brilhar. As tuas sopas sem sabor.
Oh, Portugal,
Se pudesse tomar-te nos braços e beijar-te…
As tuas caras franzidas
As tuas soturnas nuvens de inverno
O teu sol arrebatando tudo num sopro de ouro quando as nuvens deslizam para o mar.
Tu e o teu ar fresco, o teu peixe que se pode comer.
Tu e os teus cães pacientes, os teus lagartos adoradores do sol. Tu e as tuas árvores tão carregadas de frutos
Os ramos quase a partirem-se
implorando ajuda,
Oh, Portugal…
As tuas árvores ajudaram-me.
Dou-te o meu coração, dou a minha boca para alimentar,
As minhas mãos para fazer vinho e compotas,
Os meus pés para caminhar, para tropeçar nas tuas pedras ásperas, Os meus joelhos – Portugal, dou-te a minha palavra, amo-te.
Wendy Lee Hermance, de “Weird Foods of Portugal: Adventues of an Expat” copyright 2021, Trans. By Jose Lima