Vale do Panshir resiste aos talibans
22 de Agosto, 2021A resistência ao regime taliban encontra-se agora instalada no Vale de Panshir, um enclave montanhoso de difícil acesso a nordeste de Cabul, em que Ahmad Massoud (filho do já falecido Ahmad Shah Massou, o célebre “Leão do Panshir” e líder da Aliança do Norte que, a partir do vale, lutou contra a ocupação soviética e, depois, enfrentou os taliban, tendo sido assassinado em 2001 pela al-Qaeda, dois dias antes do 11 de Setembro) e outros militares do então exército afegão destroçado estão a congregar esforços para empreender novas acções de defesa. Ahmad Massoud pede apoio aos países do Ocidente para que consigam resistir ao poderio dos talibans. Juntamente consigo, está o vice-presidente Amrullah Saleh que agora se declara como presidente interino legítimo do país, após a fuga do chefe de Estado Ashraf Ghani. Também o antigo ministro da Defesa, Bismillah Khan Mohammad, se encontra entre a falange de resistentes. Muitos soldados têm acorrido ao vale, enojados pela rendição anterior dos seus chefes e comandantes diante da ofensiva dos talibans. Também ex-membros das Forças Especiais afegãs estão ali presentes, dispostos a dar luta até ao derradeiro suspiro.
O vale é de dificílimo acesso e o conhecimento do terreno é fundamental, o que explica o insucesso histórico de soviéticos e talibans que tentaram dominar a região, sofrendo baixas consideráveis nas suas tentativas frustradas. Todavia, o bastião encontra-se agora cercado e os sucessos estonteantes dos talibans que igualmente se apoderaram do arsenal e despojos de guerra deixados pelos norte-americanos e aliados da NATO, poderá tornar inglória a resistência no vale, bastando cortar os acessos e corredores de apoio para forçar uma rendição a médio ou longo prazo. No entanto, os resistentes acreditam que mais províncias poderão reagir e lutar contra a opressão dos talibans, colocando o seu domínio em causa.
Como Susana Salvador, jornalista do Diário de Notícias, deu a entender no título da sua reportagem: os próximos tempos irão definir se o Vale de Panshir será o “berço ou o caixão da resistência aos talibans“.
A tensão permanece assim elevada no Afeganistão. No aeroporto de Cabul, a confusão tem estado instalada, e ainda hoje, sete civis afegãos morreram esmagados no meio de um novo momento de caos e aflição. São incontáveis as pessoas que tentam fugir ao regime taliban. De acordo com fontes no terreno, os insurgentes estão a revistar casas, perseguindo colaboradores afegãos dos anteriores governos e das forças da NATO. Há ainda registos de repressão sobre manifestantes que recusam a nova bandeira do Emirado Islâmico e se atrevem a exibir o estandarte tradicional, desafiando a ira dos fundamentalistas.
Em breve, serão accionados 18 aviões comerciais para retirar mais refugiados afegãos. O anúncio foi feito pelos norte-americanos motivados pela solicitação da França que defendeu novas medidas e acções que facilitassem a retirada dos cidadãos dos países aliados e de todos os afegãos cujas vidas corram perigo em Cabul, prolongando a operação no aeroporto, com maior coordenação. De acordo com o Jornal de Notícias, o Pentágono já está a sondar companhias aéreas nesse sentido, contudo o impacto desta medida poderá não ser suficiente. Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, admite que vai ser impossível retirar do Afeganistão todas as pessoas, incluindo os estrangeiros ocidentais, até ao final do mês, e explica que isso muito se deve ao facto de a NATO e os EUA apenas controlarem o aeroporto militar de Cabul, enquanto que o aeroporto civil da capital (sem voos de partida) está nas mãos dos talibans.
Créditos da Imagem: Ahmad SAHEL ARMAN / AFP
Fontes: Diário de Notícias e Jornal de Notícias