Vamos deixar-nos salvar pelo Natal?

Escolho este título para tentar ‘virar o bico ao prego’, quero dizer, para pôr o Natal no seu lugar, porque só Ele nos pode salvar.

Crentes ou não, mais próximos ou mais afastados, mais convictos ou mais românticos, todos vivemos este tempo de Natal como um tempo diferente que nos pede algumas atenções e cuidados especiais. Há um ‘espírito de Natal’ que felizmente consegue ‘invadir’ as ruas, mas sobretudo os corações. Quase todos acreditamos que as relações entre as pessoas e entre as nações podem ser diferentes, podem ser melhores para todos. No Natal, verdadeiramente, chegamos a pensar que todos somos irmãos.

Para os que acreditam e erguem os olhos para o Céu, a razão para este sonho é a pessoa de Jesus, por nós reconhecido como o Salvador, o Deus feito próximo no meio de nós – não como um anjo, mas igual a nós, carne da nossa carne – como só os profetas terão talvez vislumbrado. Foi Ele – é Ele, hoje como ontem e sempre – que nos fez ver como é possível uma nova humanidade, como é uma graça esta nova fraternidade, como é uma tarefa inacabada a construção da Casa Comum que todos habitamos.

O Natal foi isto, naquela primeira noite de Belém, entre os pobres dos mais pobres, mas já inundada da mais pura luz e alegria. O Natal continua a ser isto – este acontecimento recordado e eternizado em cada presépio – para que nunca nos esqueçamos de que um dia fomos meninos e acreditamos na mais sábia e verdadeira inocência.

Dizem-nos que este ano o Natal vai ser diferente. E nós sabemos que assim será, porque é ainda maior a ‘noite’ que nos avisa contra beijos e abraços que tanta falta nos fazem. Mas a luz, se conseguirmos erguer os olhos, está no mesmo lugar e brilha mais do que nunca. O Menino, se não nos esquecemos de O colocar na manjedoura, continua a sorrir-nos de braços abertos como um convite à esperança. Ainda que seja só por um momento, levantemo-nos e caminhemos ao seu encontro. Encontrá-lo-emos logo ao nosso lado, na nossa casa, à nossa mesa, na casa do vizinho, na cama do amigo ou familiar doente, à mesa do café ou no comboio; no enfermeiro ou no médico, na padaria ou no supermercado. O Menino é assim, desde que nasceu, consegue estar em todo o lugar e em cada pessoa. Sempre à espera, de braços abertos.

É a nós que nos cabe multiplicar a luz e a esperança. Já este Natal. Não podemos ficar à espera do próximo. Só haverá próximo se fizermos este.

Sim, o Natal poderá salvar-nos, se não ficarmos fechados em nós mesmos, perdidos na noite, mas sairmos chamados por uma qualquer estrela, mesmo que não passe pelo presépio de Belém. Passará sempre pelo coração.

Para todos os esmorizenses, votos de um Natal santo e abençoado que não deixe apagar em nós a alegria e a esperança.

Mensagem do Padre Manuel Mendes

Paróquia de Santa Maria de Esmoriz